Rede de coletivos de favelas independentes, autônomos e suprapartidários querem mudar a realidade da política a fim de ocupar estrategicamente os espaços de poder

Artur Sampaiono um dos idealizadores do PerifaLab. Foto: Cecília Quental

Por Mauro Utida 

Pessoas negras e de periferia são a maioria na sociedade, mas são poucas representadas nas casas Legislativas e Executivas dos estados e municípios. Uma rede de coletivos independentes, autônomos e suprapartidários, de coletivos de favela, querem alterar essa estrutura a fim de ocupar estrategicamente os espaços de poder e mudar a realidade das minorias.

O PerifaLab observou esse vácuo nas estruturas políticas e trabalha para acelerar esse proceso para aumentar a representatividade de favelados e periféricos. O grupo estruturou um centro de formação inédito de produção política, cultural e midiática da favela. O objetivo do projeto é formar, capacitar e orientar gratuitamente lideranças periféricas que querem crescer e se viabilizar para as próximas eleições. O movimento apoia mais de 500 candidaturas, espalhadas por todo país.

A segunda turma do PerifaLab composta por 80 membros acabou de ser formada para o processo eleitoral de 2022, com possibilidade de eleger 12% dos formandos para cargos nas Assembleias Legislativas dos estados e na Câmara dos Deputados, informa Artur Sampaio, porta-voz da instituição. O projeto também tem o objetivo de preparar formadores de opinião que são agentes importantes para disseminação de informações.

“O PerifaLab tem o objetivo de acabar com a desproporcionalidade representativa nas cadeiras legislativas e executivas, renovando o poder através do fortalecimento de campanhas periféricas, de mulheres, indígenas e LGBTQIAP+”, explicou Artur.

A primeira turma do PerifaLab já fez a diferença nas últimas eleições e conseguiu eleger parlamentares de destaque, como a vereadora de Contagem-MG, Moara Saboia, candidata a deputada estadual pelo PT. “Movimentos populares e partidos políticos, há muito tempo apontam a necessidade de ocupar essas cadeiras e governar para nós, a verdadeira maioria da população brasileira. Felizmente, nos últimos anos, temos presenciado o surgimento de projetos que procuram pesar a balança a nosso favor”, escreveu Moara para a Mídia NINJA.

Artur, que é um dos idealizadores da PerifaLab, complementa a fala de Moara e diz que o projeto identificou um grande vácuo existente na estrutura organizacional do poder que não garante acesso às lideranças comunitárias da periferia.

Outras formandas de destaque da primeira turma foram Tainá de Paula, vereadora do Rio de Janeiro pelo PT; a vereadora de Natal (RN) Brisa, também do PT; Alexandre Xandó, vereador de Salvador pelo PT; e o vereador de Embu das artes (SP) Abidan Henrique do PSOL. Uma característica do projeto é trabalhar apenas com políticos filiados a legendas do campo progressista de esquerda.

“A gente só atende candidaturas de cunho progressista porque a gente tem lado na política. Temos comprometimento com as pautas que são contra as opressões de gênero, de raça, a violência LGBT e o machismo. Não estamos vendidos ao capital estrangeiro. Nós fazemos um movimento voltado para lideranças de periferia, porque entendemos que precisamos disputar o retrato das estruturas de poder”, declara Artur Sampaio.

O PerifaLab deverá abrir uma nova turma em janeiro de 2023, com foco nas eleições de 2024.

União de forças

A ideia do PerifaLab é discutir essa pirâmide de representação em espaços de poder. Para isso, houve a unificação de forças com instituições que também desenvolvem esse trabalho em diferentes estados para coonstruir uma agenda para “o futuro que nós queremos”.

Atualmente 20 programas e instituições de todo Brasil contam com o apoio da Instituição, que reflete e age contra a ascensão de projetos antidemocráticos e autoritários em diversas partes do mundo atual, em especial no Brasil, que expõe ainda mais os grupos marginalizados, deteriorando direitos conquistados por trabalhadores, mulheres, negros, indígenas e população LGBTQIA+.

Um destes programas é o Observatório Eleições 2022, iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação, que faz análise semanal sobre as eleições na Coluna NINJA.

Entre esses movimentos também estão a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) que possui um projeto semelhante para eleger líderanças indígenas, também conhecida como a ‘Bancada do Cocar’. Além do ‘Quilombo nos Parlamentos’, liderado pela Coalizão Negra Por Direitos para eleger lideranças negras. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também está mobilizado para eleger candidaturas Sem Terra; a Casa Galiléia e Novas Narrativas Evangélicas querem eleger lideranças evangélicas comprometidas com a agenda constitucional e democratica; Elas no Poder, com lideranças femininas; além de outros movimentos parceiros da Perifalab como Estamos Prontas, ISER – Instituto de Estudos da Religião e Open Society Foundations (OSF).

“O projeto do PerifaLAB opera de fora para dentro, porque nós atuamos com as lideranças de comunidades, de periferias. Então, se for colocar de uma maneira mais coesa, sim, estão à esquerda para fazer a renovação a partir do povo, das periferias, dos negros e negras, das mulheres e dos LGBTs”, destaca Artur.

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