Montagem: @5minutosnocinema

*Por Lucas S. Detoni

Você com certeza já assistiu a um filme que te deu aquela sensação de que as cenas de ação ficaram perfeitas. Que aquele salto perigoso ficou extremamente real. Ou que jamais um ator faria aquela cena e pensou: ainda bem que tem um dublê.

O profissional dublê (Fall Guy ou Stunt Man em inglês) sempre existiu em um set de filmagens desde que alguém decidiu filmar imagens em movimento. Se tinha um ator ou atriz em uma cena perigosa, lá estava o dublê para se arriscar no lugar dos astros.

E sim, essa era a única função de um dublê, nada mais. Não precisava decorar textos, fazer cenas dramáticas ou chorar. O diretor gritava “ação” e pronto, era só se jogar. Os dublês destemidos viveram por anos nas sombras das estrelas de cinema, mas isso mudou nas últimas décadas.

Esses profissionais passaram a se tornar consultores de cenas, desenvolvendo junto com diretores e roteiristas a melhor forma de criar aquela cena que vai marcar o filme. Foi uma mudança imensa no modus operandi desses profissionais, que perceberam a necessidade de se envolver mais profundamente nos projetos e tiveram suas vozes ouvidas pelos grandes estúdios.

Isso transformou o cinema de diversas maneiras, seja na forma de se fazer um filme, tornando-o mais ágil e visualmente agradável, até encorajar grandes astros a fazer suas próprias cenas – como Tom Cruise, que hoje se divide entre ser ator e seu próprio dublê.

Filmes como Matrix usaram o recurso de dublês que criaram cenas e coreografias para as cenas de luta e perseguições. A cine-série Velozes e Furiosos também usou dessa expertise.

Atualmente, a produtora 87 Eleven, criada pelos ex-dublês Chad Stahelki e David Leitch, é uma das referências em Hollywood na descoberta de novos dublês e no desenvolvimento de cenas, roteiros e filmes de grande sucesso, como John Wick (com Keanu Reeves, que já se tornou uma franquia), O Resgate, e esse ano estreia o filme O Dublê (The Fall Guy), que é a declaração de amor desses produtores para a profissão que é tão marginalizada em Hollywood.

Por causa dessa mudança de status da profissão, já faz um tempo que circulam nos bastidores boatos de um movimento para pressionar a Academia do Oscar a incluir uma categoria que prestigie as equipes de dublês nos filmes. Mais antenado, o Screen Actors Guild (SAG), o Sindicato dos Atores de Hollywood, já criou uma categoria para premiar os dublês, e teve um grande apoio popular.

Então por que a Academia não inclui essa categoria? Infelizmente, o Oscar, que foi criado há 96 anos, tem regras rígidas para inclusão ou até mesmo mudança de nomes das categorias, para se atualizar às mudanças tecnológicas dos novos tempos. Isso inclui também a rigidez antiquada em não alterar seu regimento para as novas possibilidades de gêneros disputarem categorias de Melhor Atriz ou Ator.

Essa necessidade de seguir um regimento feito há 96 anos acaba afastando o grande público da cerimônia ao vivo. As pessoas querem se sentir representadas e os dublês têm fãs calorosos por aí – assim como outros públicos. Acredito que essa mudança vai acontecer, porém, pode demorar um pouco, mas logo poderemos ver uma equipe de dublês sendo prestigiada com um prêmio.

Não é de hoje que o Oscar tem perdido público, principalmente de cinéfilos que acompanhavam a cerimônia antes. Com a chegada dessa nova categoria, a de “Melhor equipe de dublês”, com certeza haveria uma empatia enorme, possibilitando que o público que tinha “perdido a fé” na cerimônia volte. Teríamos torcidas acaloradas e novas curiosidades sobre essa categoria.

Nos resta esperar que os bons ventos da mudança cheguem para essa premiação, que está próxima dos seus 100 anos de existência.

*Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024