Na quinta-feira (14), em nova investida, município apreendeu carros (Reprodução)

 

No Rio de Janeiro, indígenas denunciam violência institucional contra o movimento de reintegração de posse de um território ancestral. Representantes de mais de 36 povos compõem a mobilização de retomada de área no Parque Estadual Cunhambebe, que fica no Vale do Sahy, em Mangaratiba. É lá que pretendem erguer o Território Multiétnico Cunhambebe Pindorama, na região outrora ocupada pelos Tamoio.

Mas a Prefeitura está bastante incomodada com o movimento de reintegração de posse, como contaram representantes do movimento, à Casa Ninja Amazônia. Segundo eles, como a cada dia chega mais gente para fortalecer a ocupação, eles têm sido vítimas da ação do Estado e Município, que visam desarticular o movimento.

“Nesta quinta-feira (14) de tarde eles apreenderam carros que nos auxiliam com o abastecimento de mantimentos e remédios. Mas são várias as leis que vão surgindo sempre para nos forçar a sair. Não pode deixar o carro estacionado, que seremos multados. Não pode acender fogo para fazer comida. Tem lei que não permite que estendamos lona para proteger as crianças, toda hora é uma lei diferente. Tem até lei de pedágio”.

Os carros foram reavidos nesta sexta-feira (15), mas os pertences apreendidos voltaram destruídos.

Segundo relato dos indígenas, o prefeito Alan Costa (PP) está bastante incomodado com a ocupação. Ele foi ao local no dia 14 de junho para notifica-los de decisão da justiça que ordenava interrupção das construções no parque. Proferindo discurso de ódio e preconceito, disse que eles não eram indígenas e os chamou de “enfeitados”. Os indígenas retrucaram, o chamando de “ladrão”. Vídeos registraram reação bastante alterada do prefeito.

Nesta segunda-feira (11), de volta ao local, disse que “índio é folclore”. Ele tinha uma decisão judicial que autorizava o despejo dos indígenas. O grupo indígena reagiu, já que uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, prorrogou até o fim de outubro o veto a despejos e desocupações, por conta da pandemia.

Os indígenas reclamaram ao STF e a ministra Rosa Weber requisitou em caráter de urgência, uma resposta do juiz da Vara da Comarca de Mangaratiba, que determinou o despejo. Por enquanto, o impasse continua. “E a resistência, também. Estão tentando nos tirar à força. Mas ninguém vai sair. A gente não aceita e não vai aceitar violência”.

O nome da aldeia multiétnica é uma homenagem ao encantado que sinalizou que era ali o local onde deveriam se estabelecer. A União das Nações Indígenas reconhece Cunhambebe, que dá o nome ao local, como chefe da Confederação dos Tamoios.