Filme dirigido por Gabriel Di Giacomo chega aos cinemas nesta quinta-feira (30), véspera da data que marca o aniversário do Golpe Militar no Brasil

Foto: Divulgação/Embaúba Filmes

Por Lilianna Bernartt

O documentário “Memória Sufocada”, dirigido por Gabriel Di Giacomo, mergulha no cenário histórico-político que envolve o Golpe Militar de 1964 – que neste ano completa 59 anos – analisando e relacionando o mesmo à atual onda militarista, conservadora e reacionária que se alastrou no Brasil e culminou com a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A narrativa parte do torturador Coronel Brilhante Ustra – figura chave da ditadura civil-militar brasileira, condenado como um dos principais agentes de tortura durante a ditadura militar, e se amplifica para um panorama global do movimento gerador do Golpe Militar de 1964, contando com depoimentos e áudios de figuras como Carlos Lacerda, João Goulart e Lyndon B. Johnson, presidente interino dos Estados Unidos, pós assassinato de Kennedy.

Gabriel Di Giacomo alerta e propõe uma reflexão sobre a atual reiteração histórica, militar e conservadora em nosso país, através do Governo Bolsonaro e sua correlação com a ditadura.

Dentre os inúmeros resquícios da ditadura que se apresentam, a dissimulação de informações falsas chama atenção como grande responsável – à época e nos dias atuais – pela propagação de narrativas totalitárias. A nebulosidade informativa, reforçada pela pauta moral-religiosa, continua sendo uma forte ferramenta para instauração de movimentos de opressão.

Sob este aspecto, o documentário mostra trechos de depoimentos de vítimas torturadas durante a ditadura, com imagens extraídas da Comissão Nacional da Verdade e do Arquivo Nacional – que são contra-argumentados pelo torturador Coronel Ustra, em um discurso negacionista e justificado pela “atuação heróica do Estado”, diante do “perigo comunista instaurado à época”.

Foto: Divulgação/Embaúba Filmes

Um notório e inflado discurso de violência e opressão, pautado em uma retórica infundada – sem qualquer comprovação factual ou documental – além da permanente dissimulação e omissão de informações. Formato discursivo seguido à risca pelo governo do ex-presidente Bolsonaro, através de discursos de cunho violento e opressivo, encapados sob falsa égide moral e religiosa.

Como agravante, um novo modelo de relacionamento social foi instaurado a partir das interações decorrentes da internet. A propagação de fake news tomou proporções perigosas e incontroláveis.

Sob esse aspecto, a crítica do documentário já se estabelece a partir de sua realização. “Memória Sufocada”, exceto pela captação de imagens do DOI-CODI de São Paulo, é composto a partir de material disponível na internet.

Desta forma, o diretor Gabriel Di Giacomo estende a provocação para a análise do contraponto entre a verdade factual, histórica, e a (re)criação de narrativas a partir dela. O que se nota é que a interpretação histórica sócio-política de nosso país, tanto no que diz respeito à constituição dos fatos, quanto à reverberação dos mesmos, ainda permanece intencionalmente sufocada.

Fugindo de qualquer resquício de imposição argumentativa, o diretor convida o espectador a montar sua própria narrativa – através da apresentação de fatos históricos disponíveis a todos e ainda, enriquece o debate, ao disponibilizar o acesso do público à totalidade do material, fruto de sua pesquisa, através do site memoriasufocada.com.br.

O documentário estreia dia 30 de março nos cinemas – véspera da data que marca o aniversário histórico do Golpe Militar de 1964 e também o marco de um dos períodos mais sombrios de nossa história. Além de nos alertar acerca da presente e perigosa reiteração histórica política, Memória Sufocada nos convida a um debate necessário – individual e coletivo – sobre a importância da autonomia popular da nossa trajetória como país.