Opinião: O que a Copa do Mundo em um lugar como o Catar nos ensinou?
Palco de manifestações, evento mostrou que futebol e política, sim, se misturam
Por Stefane Amaro
A Copa do Mundo 2022 chega ao fim neste domingo, dia 18, e apesar de não ter rendido a tão sonhada sexta estrela para a Seleção Brasileira, definitivamente rendeu, pelo menos aos mais atentos, reflexões sobre o próprio futebol e todo o universo que o rodeia. Realizada em um país marcado por questões ligadas aos direitos humanos, a Copa do Mundo do Catar levantou debates sobre fundamentalismo, patriarcado e homofobia – e o papel do futebol em meio a tudo isso.
O discurso que trata de futebol e política como água e óleo não entrou em campo. Não com algumas seleções. Fora das quatro linhas, Inglaterra, Holanda e País de Gales travaram uma queda de braço com a FIFA para que os capitães usassem as braçadeiras One Love, em apoio à causa LGBTQIA+. E não estavam sozinhas. Durante o jogo entre Portugal e Uruguai, um homem, vestindo uma camiseta azul do Super-Homem que dizia “Salvem a Ucrânia” na frente e “Respeito pelas Mulheres Iranianas” nas costas, correu para o campo carregando uma bandeira do arco-íris.
E por falar no povo iraniano, que exemplo de resistência deram os jogadores e torcida! Desde a estreia da Seleção do Irã contra a Inglaterra, imagens de protesto saltaram aos olhos – atletas em campo não cantaram o hino nacional e, nas arquibancadas, bandeiras e cartazes em favor da liberdade feminina no país foram levantadas. Na estreia contra o Japão, a Alemanha também deixou recado. Em protesto contra a proibição da FIFA à braçadeira de capitão One Love, a seleção posou para a foto oficial do jogo com a mão tapando a boca apontando o silenciamento da federação.
Diante do posicionamento de atletas e jogadores, se havia dúvidas quanto a natureza política do futebol, elas cessaram. Muito mais do que 22 jogadores em busca de um título, o que se viu na Copa do Mundo do Catar, foi resistência, história, geopolítica, ressignificação – dentro e fora de campo. Como ignorar a influência do evento, no Brasil inclusive e especialmente, sobre o cenário social e político?
Não trouxemos a taça para casa, é fato. Mas assistimos, pela primeira vez, narradoras e comentaristas finalmente assumindo o protagonismo em um evento tradicionalmente dominado por homens – em todas as esferas. E, por falar em protagonismo, vimos igualmente de forma inédita, um quadro de arbitragem feminino, composto, dentre outras profissionais, por uma brasileira.
Também tivemos, após uma eleição extremamente importante, a oportunidade de ressignificar a “amarelinha” – um símbolo tão antigo e importante para nós que se mistura com a nossa própria história. Foi como se, finalmente, pudéssemos tomar de volta o que, como qualquer símbolo nacional, é nosso e estava temporariamente (talvez, por tempo demais) sob o domínio da extrema direita. Dentro de campo, o resultado não foi satisfatório como gostaríamos. Mas fora dele, nós, com certeza, temos muito a comemorar.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube