Catarinense Neuza Back se une a mais cinco mulheres para apitar a edição do Catar

Neuza Back. Foto: Jeff Botega

Por Bruna Rios

A chegada da Copa do Mundo 2022 traz consigo inúmeros questionamentos socioculturais. Sediada em uma nação na qual alguns dos direitos humanos universais são revogados por posicionamentos políticos e religiosos, a presença de mulheres em um território um tanto quanto hostil acaba por levantar polêmicas, ainda mais quando tais participações são dentro de campo.

Para a edição deste ano, a FIFA elegeu seis mulheres para compor o quadro de arbitragem. O número, apesar de baixo, é uma conquista. Em 92 anos de história, é a primeira vez que mulheres são escaladas para apitarem jogos masculinos em uma Copa do Mundo. Dentre as novidades, também está a participação inédita de uma brasileira no time de árbitros. 

De acordo com matéria publicada pelo O Globo, um levantamento realizado pela CBF considerando partidas de base e das séries A, B, C e D do profissional, constatou um aumento de 12,33% nas escalas de participação feminina de arbitragem no cenário nacional, de 2009 a 2020. A diferença entre os anos representa um importante marco para as mulheres da arbitragem, assim como a participação no torneio mundial de 2022. 

As mulheres escolhidas para a Copa do Mundo

As selecionadas pela FIFA, dentre árbitras e assistentes, vêm de diferentes partes do mundo: França, Japão, Ruanda, Brasil, México e Estados Unidos, cada uma representando uma confederação de futebol. Algumas já tiveram a oportunidade de apitar a Copa do Mundo feminina, mas em jogos 100% masculinos, o ineditismo é unanimidade. 

Para representar o Brasil, a escolhida foi a catarinense Neuza Back. Formada em Educação Física, a assistente de arbitragem para a Copa do no Qatar, também compõe os times de árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF), Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). Já atuou na Copa do Mundo Feminina de 2019 e integrou o quadro dos Jogos Olímpicos de Tóquio. 

A estadunidense Kathryn Nesbitt também atuará ao lado de Neuza como auxiliar de arbitragem e iniciou, em 2015, na Major League Soccer (MLS), principal campeonato de futebol dos Estados Unidos.

Kathryn Nesbitt. Reprodução: Professional Referee Organization

Para integrar a equipe de assistentes, a FIFA chamou Karen Díaz Medina. De origem mexicana, a árbitra de 38 anos começou sua carreira na área com apenas 12 anos e tem trabalhado como profissional desde 2009, principalmente pela Liga MX, campeonato mexicano de futebol. 

Karen Díaz Medina. Reprodução: MexSport

A árbitra japonesa Yoshimi Yamashita também já fez história antes. Em 2019, se tornou a primeira mulher a apitar uma partida da Liga dos Campeões da Ásia (AFC).

Yoshimi Yamashita. Foto: Victor Fraile / Power Sport Images for The AFC

Salima Mukansanga, da Ruanda, foi oficial na Copa do Mundo Feminina de 2019 e agora, em 2022, entra como referência duas vezes: além de apitar a Copa do Mundo, se tornou a primeira mulher na arbitragem do Campeonato Africano das Nações (ACN). 

Salima Mukansanga. Reprodução: OkayAfrica | Mainimo Etienne

A francesa Stéphanie Frappart finaliza o time das craques que irão participar de forma inédita de uma Copa do Mundo masculina. A árbitra foi a primeira mulher a apitar uma Liga dos Campeões (CL) em uma partida do Real Madrid contra o Celtic. 

Stephanie Frappart. Foto: OZAN KOSE/AFP via Getty Images

Qatar, país misógino e restrito

Apesar dos crescentes números de participação feminina nos últimos anos, a arbitragem ainda se constitui como uma profissão majoritariamente masculina. As cobranças referentes à competência de mulheres que trabalham com futebol são, geralmente, maiores que as feitas por homens. 

Segundo a Human Rights Watch, as tomadas de decisões de grande impacto não competem às mulheres do Qatar. Na nação escolhida como sede da Copa do Mundo 2022, algumas formas de acesso a serviços de saúde são restritas à comprovação de certidões de casamento. Sem muitos poderes sobre importantes escolhas, o que resta é uma submissão ao que lhes é imposto. 

Em um país no qual as mulheres são vistas, de certa forma, como seres inferiores, todo cuidado é pouco. A atenção ao que está sendo falado pelas torcidas e pelas comunidades, deve ser redobrada. Mesmo com todas as credenciais necessárias e certificadas pela FIFA, é possível que haja complicações dentro e fora das quatro linhas. Portanto, se faz necessária, por parte das organizações e empresas patrocinadoras, vistorias diárias na internet, nos estádios e nos locais públicos a fim de manter os direitos e a liberdade de todas as mulheres presentes. 

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube