“Solastalgia” é termo usado para nomear desconforto emocional (Lukas Rychvalsky/Pixabay)

 

A crise climática pode afetar a qualidade do que comemos, do ar que respiramos, do solo que plantamos, das relações que construímos, do ecossistema que integramos. Enfim, a vida na Terra como um todo. E fatalmente, ela prejudica a saúde mental.

Como descrever o estado emocional de quem, por exemplo, vê uma terra natal desaparecer? Alguém que tem de deixar sua casa por conta da seca ou que perde tudo em uma enchente? Um território ou uma casa é um espaço físico e simbólico. Perdê-los pode despertar um estado emocional que ainda é alvo de estudo.

Um termo que vem sendo bastante utilizado é “solastalgia”, criado pelo filósofo ambiental Glenn Albrecht para nomear o desconforto emocional causado pelas mudanças no ambiente.

Em entrevista ao site lusitano, o Público, o médico Lachlan McIver, consultor dos Médicos Sem Fronteiras para a área da saúde planetária, disse que é “uma sensação de perda que nos obriga a pensar em novas palavras, como solastalgia”. Ao longo da carreira, o médico atuou em várias comunidades isoladas, incluindo ilhas do Pacífico ameaçadas pelas alterações climáticas. “São novos conceitos que estão surgindo na psiquiatria (que não é a minha área) para tentar entender melhor esses problemas. Porque em muitas partes do mundo não temos linguagem para nomear [esta dor] nem temos recursos em termos de cuidados primários para lidar com esta e outras questões de saúde mental”.

Ele, que dedicou tese de doutorado às relações entre a saúde e mudanças no clima, diz que a situação inspira muita atenção.

“Perdoem-me por soar um pouco dramático, mas está em curso no mundo uma grande epidemia, quase sempre silenciosa, de doenças mentais relacionadas com o clima. Há certas comunidades e zonas do planeta onde este fenômeno já é hoje particularmente problemático. É claro que, ao mesmo tempo, há outra parte da população global que não está a par ou não liga nada aos efeitos adversos da crise climática, incluindo os impactos na saúde física e mental. Mas acreditem que há também inúmeros indivíduos preocupados que, neste exato momento, já estão sofrendo as consequências”, afirma.

Outro termo recente, a eco-ansiedade, foi descrita pela primeira vez em 2017 pela professora de psicologia e estudos ambientais Susan Clayton, como indica o site Modefica. A eco-ansiedade é caracterizada por preocupações graves e debilitantes sobre os riscos climáticos e ambientais e pode provocar reações como perda de apetite, insônia e ataques de pânico.

O mais recente relatório do IPCC, divulgado em fevereiro, também alerta que “comportamentos e sistemas humanos vão ser perturbados pelas mudanças climáticas de diversas maneiras e as potenciais consequências para a saúde mental e o bem-estar são proporcionalmente diversas quer na quantidade quer na complexidade”.