Feira Abya Yala vai ocupar o centro da capital semanalmente com arte e gastronomia e será inaugura com manifestações culturais ancestrais

Foto: CMACI por @aline_r_b

Em abril, a 1ª Feira Indígena & Imigrante de BH será inaugurada no coração da capital mineira. Semanalmente, sempre às quintas-feiras de 9h às 17h, a Feira Abya Yala vai trazer sua mistura ancestral para a Praça Afonso Arinos, com 14 barracas de artes indígenas e duas de gastronomia. A abertura será na próxima terça-feira, dia 19. Neste dia, além das barracas, o público vai poder experienciar diversas manifestações culturais, como Toré Kambiwá, defumação, Awê Pataxó, além de dança e música Andinas.

Idealizada pelo Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas (CMACI), a feira chega para ser um espaço de apoio e visibilidade à cultura dos cerca de 5 mil indígenas que vivem em BH e Região Metropolitana. Além de ser um espaço coletivo de exposição dos trabalhos e de geração de renda para as famílias, a feira deve se tornar um local de encontro, de troca e de conhecimento sobre essas culturas ancestrais.

“A feira Abya Ayala é resultado de uma longa luta por visibilidade, políticas públicas e valorização da vida e da cultura dos povos indígenas que estão fora de terras demarcadas, em contexto urbano ou em trânsito pela capital. O que acontece é que existe um apagamento dessa população e da sua identidade e, quando isso acontece, além de ser uma reprodução da colonização a cidade toda perde de conhecer nossa riqueza e diversidade. Além da feira, a cidade de BH também ganha a Semana Municipal dos Povos Indígenas, ambas conquistas articuladas pelo Gabinete Sylvia Rivera da vereadora Duda Salabert”, afirma Avelin Buniacá Kambiwá, socióloga, professora e fundadora do CMACI.

A data de inauguração da feira não é aleatória: o dia 19 de abril é marcado pelo Dia da Resistência dos Povos Indígenas, que consta no calendário nacional como “dia do índio”, mas foi reapropriado pelos povos originários e se tornou um dia de luta contra o apagamento das culturas, contra o racismo e outras formas de violência; por direitos, por território, pela Mãe Terra.

A feira

Entre o que as pessoas vão encontrar nas barraquinhas da feira estão cestarias, peças em madeira, bonecas e crochês do Povo Kambiwá, rapé e especiarias indígenas. Arte em madeira do povo Pataxó, gamelas, tábuas de carne, pilão, brincos e colares de sementes, pedras e cristais com a sabedoria das mulheres Aymara da Bolívia também estarão à venda. Além de tecidos e vestimentas peruanas e comidas típicas do Peru. As roupas, bolsas e outras peças coloridas da República Democrática do Congo estarão expostas no local, além de comidas típicas deste país.

Inauguração e parceria

No dia 19, a feira terá início às 9h com defumação e cânticos. A partir das 10h, acontecerá uma celebração Andina, manifestação de gratidão à Mãe Terra, que segue durante toda a manhã. Ao longo do dia, serão realizadas outras apresentações culturais dos povos presentes.

A Feira Abya Yala é realizada pelo Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas em parceria com o coletivo de mulheres migrantes Cio da Terra. O CMACI é um coletivo formado majoritariamente por mulheres, indígenas e também não indígenas. O convite foi feito ao Cio da Terra por compreenderem a urgência do fortalecimento da economia gerada por mulheres.

A feira também conta com apoio da Prefeitura de Belo Horizonte.

Abya Yala

E por que Abya Yala? O nome reflete a identidade e o propósito do grupo que a criou: Abya Yala é aquele que é nascido em casa. É a casa-território, a Terra madura, a Terra-vida e viva, em constante florescimento. É também a Terra-Vida em que é possível o Bem Viver para viver bem. É uma oportunidade para pensar outros mundos.

CMACI

O Comitê Mineiro é formado por mulheres, homens e crianças originárias. O coletivo também conta com o apoio de voluntárias(os) não-indígenas das mais diversas áreas de formação acadêmica e conhecimentos tradicionais. Fundado em 2012, o objetivo principal é apoiar as pessoas indígenas que estão em retomadas e aldeias na RMBH (e outras regiões). Bem como no desenvolvimento dessas comunidades através da organização de mutirões e campanhas.

O comitê atua na promoção dos direitos indígenas, na proteção da Mãe Terra, na luta contra a mineração, e também nas lutas antirracista, antimachista e antilgbtfobica. Promove também a igualdade e o letramento racial, na cultura e na educação, se posicionando na linha de frente da defesa e garantia dos direitos das pessoas indígenas que vivem em contexto urbano, em BH e região metropolitana ou em trânsito.

CIO DA TERRA

O Cio da Terra é um coletivo de mulheres migrantes, refugiadas e apátridas em Belo Horizonte. Acolhe, orienta e fortalece a cada uma e a todas juntas, favorecendo a inclusão e promovendo a transformação social, por meio da promoção do senso crítico, da autonomia e da autoestima. O coletivo incentiva a apropriação da cidade e dos espaços públicos, valoriza as diferentes culturas e estabelece diálogos e trocas multiculturais.

Formado em 2017, busca por meio de suas atividades promover a equidade de gêneros, informar e promover o acesso aos direitos sociais. O coletivo também busca fortalecer o trabalho autônomo e auxiliar na inserção laboral; e fomentar discussões de assuntos relevantes que contribuam para a construção e reflexão de políticas públicas.

Texto via assessoria