Pesquisadores têm expectativa de que a devastação da floresta possa superar a barreira dos 20 mil km² já em 2024

(Felipe Werneck/Ibama)

Grupo de pesquisadores analisa matematicamente, como uma eventual reeleição de Jair Bolsonaro (PL) ameaça a Amazônia. Como fatalmente não mudará seu entendimento sobre a necessidade de preservação ambiental e talvez até para “pagar” dívidas de campanha, é possível que o desmatamento da Amazônia retorne, nos próximos quatro anos, aos piores níveis já observados desde o início do monitoramento, em 1988.

A Folha de São Paulo solicitou estudo ao time liderado pelo ex-diretor do Inpe, Gilberto Câmara. O pesquisador alerta que “se mantidas as mesmas políticas adotadas no primeiro mandato, a expectativa é que a devastação da floresta possa superar a barreira dos 20 mil km2 já em 2024, algo que não ocorre desde 2005”.

Os pesquisadores trabalharam com uma estimativa de crescimento linear do desmatamento, semelhante ao que ocorreu nos últimos três anos, entre 15% e 20% por ano.

A Folha aponta que além da modelagem numérica, estimaram uma distribuição espacial desse desmate —ou seja, onde ele deve ocorrer. Nesse cenário, a taxa ao fim do segundo mandato, em 2026, pode passar de 27 mil km2, o equivalente à área do estado de Alagoas, ou a 18 vezes à da cidade de São Paulo.

Fontes: Prodes e projeção com o LUCCME (Modelo Ambiental de Mudança do Uso da Terra e de Cobertura do Solo, na sigla em inglês), desenvolvido pelo Inpe / Reprodução Folha de SP

Fontes: Prodes e projeção com o LUCCME (Modelo Ambiental de Mudança do Uso da Terra e de Cobertura do Solo, na sigla em inglês), desenvolvido pelo Inpe / Reprodução Inpe / Folha de SP

Reprodução Folha de SP

No estudo foram considerados o avanço do desmatamento na Amazônia nos três primeiros anos do governo, a forma como o governo conduziu a questão até o momento, além da expectativa de pressão pela abertura de novas áreas.

Quando Bolsonaro assumiu o governo, em 2019, a taxa anual de desmatamento medida pelo sistema Prodes, do Inpe, estava em torno de 7.500 km2. Esse foi o valor observado no período de agosto de 2017 a julho de 2018. Já na taxa seguinte —de agosto de 2018 a julho de 2019—, o desmatamento saltou para 10.129 km2 (alta de 34%). Foram três altas consecutivas e, em 2021, a taxa chegou a 13 mil km2, o maior valor desde 2006. O aumento médio no período foi de 20% ao ano.

Segundo a reportagem, ainda não foram divulgados os dados referentes a 2022, previstos para novembro. Mas a estimativa da equipe e de alguns outros pesquisadores do país que trabalham com monitoramento do que acontece na Amazônia é que haverá mais um aumento, chegando a 15 mil km2.

Câmara escreveu em nota técnica divulgada em formato de preprint, portanto, ainda sem revisão de outros cientistas, que “o governo Bolsonaro desmontou os principais órgãos de fiscalização ambiental, reduziu o orçamento do Inpe a 20% do que o instituto recebia em 2010, além de demitir seu diretor [Ricardo Galvão, em 2019]. O cumprimento do que é disposto no Código Florestal foi adiado”.

Ele destacou também, a queda de 40% nos autos de infração do Ibama na Amazônia.

“O embargo de áreas desmatadas caiu em 85% em 2020 comparado com 2018. Em 2021, o Ibama só liquidou 41% de seu orçamento. Apoiou projetos de lei que reduzem a proteção ambiental, como o projeto de lei 191/20, que permite mineração em terras indígenas”, completa.

Na visão do pesquisador, “o governo atual sinalizou para os desmatadores que o governo não agiria para coibir sua ação”.

Sobre a simulação, ressalta que não se configura como uma previsão, mas que certamente, os resultados podem apoiar a formulação de políticas públicas, indicando o que é necessário fazer para cada região da floresta.

Leia a reportagem na íntegra, clicando aqui. Ela foi produzida via projeto Planeta em Transe, apoiado pela Open Society Foundations.