Foto: Mídia NINJABota fogo na Babilônia! A cidade cinza ficou nublada. A cada flash, um beque. A cada baque, um rap, um reggae, um trap. Uma batalha, uma tragada, uma nova ponta guardada, mais um charuto bolado. Fogo. É Marcha da Maconha, ta tudo liberado. Sem polícia, sem estado. Desobediência civil, zona autônoma: hoje a cidade é nossa.

Concentração da Marcha começou às 14h20 no MASP. Foto: Mídia NINJA

26 de maio de 2018. 10 anos de Marcha da Maconha. 10 anos de resistência, luta e autonomia. 10 anos de luta nas bases, nas quebradas, nas escolas, nos movimentos sociais, nas redes, nas universidades e onde mais queiram trocar ideia sobre o fim da Guerra às Drogas, o poder da canábis e políticas de drogas.

Foto: Mídia NINJA

10 anos de luta pela cidade. Fumar seu baseado é arriscado. Quanto mais pala, menos pala. Quem conhece, ta ligado. Maconheiros e maconheiras são marginalizadas, esculachadas, discriminadas, às vezes presas ou mesmo forjadas. Nos fardados, jamais confiar. Se a sirene soar, o baseado sempre abaixar. Sempre se cuidar, com os fardados jamais ramelar.

Bloco da Redução de Danos contou com vários movimentos e profissionais da área, como o coletivo Craco Resiste. Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA

Quantos e quantas não rodaram por um baseado? A pergunta nunca vai calar enquanto tantos morrerem e serem aprisionados nessa guerra que parece não ter fim. A pergunta nunca vai calar enquanto não responderem cadê o Amarildo?, por que Rafael Braga foi preso?, quem matou Marielle e Anderson?, e tantas outras que todos os dias ecoam nas nossas periferias.

Foto: Ali Barbosa / Mídia NINJA

Foto: Isabel Abreu / Mídia NINJA

Bloco contra o encarceramento da Marcha reuniu diversos movimentos sociais, como o Amparar , associação de amigos e familiares de presos. Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA

50 mil marcharam sobre o principal centro econômico de São Paulo. 50 mil baseados queimaram essa terra cinza. E suas cinzas vão plantar as raízes dessa revolução verde. Quem deu a explosão inicial foi o bloco feminista, aquele que segue na linha de frente, mostrando como a luta antiproibicionista só é possível se feminista e ‘Bucetas Ingovernáveis’.

Intervenção do Bloco Feminista botou fogo no MASP. Foto: Mídia NINJA

Foto: Mídia NINJA

Feminista, sim! Não há mudança real se não houver equidade de gênero. E na Guerra às Drogas são as mulheres as mais penalizadas. São as mulheres, principalmente as negras, as maiores vítimas do encarceramento. Não há toa a proporção de mulheres negras encarceradas (62%) é igual à das presas por tráfico (62%), apesar de não haver uma relação causal entre as duas.

Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA

Foto: Mídia NINJA

Foto: Mari Mendes / Mídia NINJA

Então, ramelão, que fica bancando representante de PROERD por aí, se liga, que você não sabe de nada. Esse baque queimado é pela vida de muitas pessoas. Essa fumaça de 50 mil baques é pra ver se você se contagia e sai da sua viagem careta, dançando coreografia do PROERD com PM fardado.

Foto: Mídia NINJA

Bloco LGBT também colou na Marcha. Foto: Mídia NINJA

Foto: Thais Marinho / Mídia NINJA

Intervenção da artista e performer travesti, Terra Antropofágica, esteve na abertura da Marcha, falando sobre a resistência e existência dos corpos LGBTs. Foto: Camila Marques / Mídia NINJA

Não, não é de intervenção que precisamos, como mandou o papo a Marcha da Maconha do Rio de Janeiro. Precisamos sim que as pessoas entendam, como estava escrito no cartaz da paciente de canábis medicinal, Clárian, “só queremos viver, basta de guerra!”. Ao lado de sua mãe, Cidinha, e seu pai, Fábio, mais uma vez ela saiu na linha de frente da Marcha, com seu lindo sorriso e sua personalidade forte.

Foto: Camila Marques / Mídia NINJA

Isso só foi possível graças a canábis. Como uma criança que tem múltiplas convulsões, em decorrência de uma doença rara chamada Síndrome de Dravet, pode ter qualidade de vida? Usando o canabidiol, substância presente na canábis, ela pode, por exemplo, sorrir, brincar, ter amigos, se divertir. E sair na linha de frente de uma marcha com 50 mil maconheiros. Não é pouco.

Bloco Medicinal com Clárian e sua família à frente. Foto: Mídia NINJA

Foto: Mídia NINJA

Clárian é o símbolo de uma luta de milhares e milhares de pessoas em todo o país. Vidas que encontram na maconha a possibilidade de viver com qualidade. Pacientes considerados criminosos. Cultivadores relegados à criminalização, escondidos em suas casas e clubes de cultivo.

Foto: Alisson Barbosa /Mídia NINJA

Cultivar é estar na mira do estado, que não pensa duas vezes em violar nossas casas, corpos e vidas. Por outro lado, cultivar é se relacionar com uma planta única, cheia de personalidade e possibilidades. As plantas que estavam na Paulista ontem são esse grito de liberdade: Jardineiro não é criminoso!

Foto: Ali Barbosa / Mídia NINJA

Foto: Juliano Lamb / Mídia NINJA

Foto: Mídia NINJA

A Marcha é esse momento. De juntar as forças e sair pronto a explodir. Explodir e queimar a Babilônia inteira. Levar para nossas lutas, para nossas quebradas, para nossos espaços a mesma liberdade que dispomos na Paulista. Não pode ser só festa: é luta, energia e construção de uma revolução que não para.

Fumar maconha é um ato político de seres políticos em territórios políticos. Enxergue a potência do seu ato político, entenda seu lugar de fala e queime seu baseado com consciência: a revolução verde só está começando.

Foto: Thais Marinho / Mídia NINJA

O bloco das bikes, ou bikonheiros(as), fizeram parte da comissão de segurança da marcha, que não preciso da PM para nada. Foto: Mari Mendes / Mídia NINJA

Foto: Juliano Lamb / Mídia NINJA