Foto: Ian Berry

Por Marcos Lucas Valentim

Como praticamente tudo que acontece na África, imagino que a maioria nunca tenha ouvido falar sobre o Massacre de Sharpeville – mas, provavelmente, já ouviu falar do ocorrido em Columbine, nos EUA.

Breve parênteses antes de abordar o assunto: é preciso parar de ignorar a África pra ontem! Muita gente ainda negligencia o continente, quando se tem que fazer justamente o contrário: pesquisar, estudar, ler, entender África. Afinal, como diz Jurema Werneck, “nossos passos vêm de longe”.

Voltando ao raciocínio inicial…

No dia 21 de março de 1960, 69 pessoas morreram e 186 ficaram feridas em Sharpeville, bairro de Johanesburgo, principal cidade da África do Sul. Milhares de pessoas se reuniram em frente ao distrito policial para um protesto pacífico – importante ressaltar isso – contra a Lei do Passe, que obrigava negros e negras a portarem uma caderneta que indicava aonde eles podiam ou não ir.

Os vinte soldados que estavam no distrito se sentiram coagidos e pediram reforços, e foi aí que a coisa começou a desandar. Tanques, motos e até caças militares apareceram tentando dispersar a multidão. Os manifestantes, desarmados, reagiram lançando pedras. Os policiais, então, abriram fogo contra a população. Estamos falando aqui de 60 anos atrás e pessoas morreram porque simplesmente queriam ter, entre outras coisas, o direito de ir e vir. Era o auge do apartheid.

Até aquele dia, Nelson Mandela mantinha uma postura de diálogo, optando sempre pela não violência. Só que, numa manobra absolutamente autoritária, o governo baniu qualquer organização política, como o Congresso Nacional Africano (CNA) e o Congresso Pan-Africano (PAC). Sendo assim, Mandela acabou preso, em 1964.

No dia 21 de março de 1969, a ONU instituiu o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. O apartheid nos moldes que conhecemos só viria a acabar em 1994, quando Nelson foi eleito presidente da África do Sul.

Dito isto, fica explícita a necessidade do dia de hoje não só para a África do Sul mas para o mundo todo e principalmente o Brasil, país fora da África com a maior população negra do mundo. Somos 54% e continuamos sendo molestados das mais diversas e violentas formas dia após dia.

Vale lembrar a frase de Elisa Lucinda: “se eu sei onde encontrar negro e onde encontrar branco, tem apartheid”.

Estamos em 2020, e segue atual.

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