Suposições, ilações ou hipóteses, merecem uma investigação séria e cuja idoneidade esteja extreme de dúvidas.

Ativistas vão às ruas por justiça para Marielle. Foto: Mídia NINJA

Sobre a prisão dos suspeitos do assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes — o PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira — ocorrida apenas às vésperas de completar um ano de seus brutais homicídios, a boa escola jurídica nos ensina que não é correto fazer ilações ou suposições levianas ou açodadas. Afinal, como tenho repetido à exaustão, “teoria do domínio do fato” nunca mais, nem contra os meus piores adversários

Mas, de onde parte o princípio de uma investigação, senão de uma ilação, de uma suposição? Comprovada a materialidade de um crime, para se descobrir a autoria desse mesmo delito a investigação criminal parte de uma hipótese, que deve ser pesquisada, aprofundada e robustecida com provas — coletadas a partir de indícios — para somente então ser confirmada ou refutada.

O bom investigador, seja ele policial ou promotor de justiça, deve ser detentor de dois atributos essenciais: tirocínio e raciocínio lógico (indutivo, dedutivo e hipotético-dedutivo). Saber juntar “lé com cré” é essencial. A partir daí, o trabalho investigativo de oitiva testemunhal, prova técnico-pericial e coleta das demais provas fica muito mais fácil.

Não quero ser presunçoso, muito menos leviano. Mas, há muito tempo venho levantando algumas hipóteses relativas a este crime bárbaro: a de que havia indícios robustos e suficientes de que os assassinos de Marielle e Anderson fossem milicianos era uma delas.

Pari-passu, também de há muito afirmo, em diversos artigos, escritos com base em fatos jornalísticos, que o envolvimento do então deputado estadual e hoje Senador da República, Flávio Bolsonaro com milicianos já resta sobejamente comprovado. A movimentação de R$ 7 milhões, em três anos, de Queiroz; a posição estratégica que este ocupava no mandato de Flávio Bolsonaro; os saques, depósitos, transferências e cheques de Queiroz, envolvendo demais assessores e até a Primeira Dama do Brasil, Michelle Bolsonaro; a relação de Queiroz com as milícias de Rio das Pedras-RJ; as reiteradas homenagens prestadas por Flávio a membros do tal “Escritório do Crime”, milícia de Rio das Pedras-RJ; as indicações de Queiroz para a composição da assessoria parlamentar de Flávio, incluindo a mãe e esposa de miliciano do “Escritório do Crime”, de Rio das Pedras-RJ; a estadia milionária de Queiroz no hospital Albert Einstein… Tudo isso são fatos, que podem servir como provas para corroborar diversas teses. Não são indícios.

Com a prisão dos suspeitos do duplo homicídio, praticado a lá Cartel de Medellín, com requintes de crueldade (a atuação de Ronnie Lessa como sicário aponta para motivação política), vieram à tona mais alguns fatos (repito, fatos, não indícios) que reforçam os anteriores: o de que Ronnie Lessa, suposto autor dos disparos, é vizinho de Jair Bolsonaro em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca-RJ; de que ele é detentor de um patrimônio milionário, mesmo recebendo, como PM da reserva, um soldo de R$ 7 mil; de que ele armazenava um verdadeiro arsenal de guerra na casa de um amigo (117 fuzis M-16, arma de uso dos Fuzileiros Navais norte-americanos); e o de que um dos filhos do Presidente, Renan Jair, foi namorado da filha do suspeito, agora preso.

O que se pode dessumir ou pressupor desses fatos é que são suposições. Mas, apesar de serem apenas suposições, ilações ou hipóteses, merecem (e como merecem) uma investigação séria e cuja idoneidade esteja extreme de dúvidas. Pois qualquer investigador que detenha ambas as qualidades que mencionei (tirocínio e raciocínio lógico) vai se perguntar e, por via de conseqüência, investigar, para refutar ou confirmar: teria, algum membro da Família Bolsonaro, algum tipo de envolvimento ou, no mínimo, ciência do que se passava às suas barbas, com o pai da namorada de um dos filhos do Presidente, seu vizinho? Afinal, são muitas coincidências. E coincidência demais tem outro nome…

Repito, não quero ser presunçoso e muito menos leviano. Mas, das três, ao menos uma hipótese é verdadeira: ou eu estaria sendo muito maldoso; ou o raciocínio lógico dos investigadores, neste caso, está em estado de dormência ou latência; ou o meu tirocínio está no nível Sherlock Holmes de dedutibilidade. Pois agora que, em tese, já sabemos quem matou, restam duas outras perguntas, que também não querem calar: quem mandou matar Marielle e Anderson? E por quais motivos? Segundo o meu faro, foram as mesmas pessoas que mandaram Adélio Bispo desferir uma facada no Presidente.

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