Foto: AP

Congresso versus presidente. O Brasil há alguns anos vive essa realidade na pele, com corruptos sendo “absolvidos” de seus roubos, direitos sendo ignorados e desrespeito com a população. Nos EUA, a história não tem sido muito diferente, mas nas últimas semanas a disputa entre os poderes tem se agravado, neste mês que se completa 2 anos do mandato de Donald Trump como presidente da nação norte americana.

O orçamento de governo precisa ser aprovado pelos parlamentares, e isso não ocorreu, o que leva a um congelamento de gastos, conhecido como Federal Shutdown. A consequência real disso é a falta de pagamento dos funcionários públicos de alguns setores, como parques, museus e corpo de bombeiros, entre outros. E isso tem acontecido na superpotência por um motivo simples: o capricho infantil e preconceituoso de Donald Trump.

Joseph Prezioso / AFP / Getty Images

O presidente estadunidense quer que seus congressistas aprovem um orçamento de 5 bilhões de dólares para construir um muro. Carinho, não? E outra, não é qualquer muro. É um muro xenofóbico, entre seu país e o México, para “deixar para fora criminosos, estupradores e pessoas que destróem a nação”. Mas oi? A mesma síndrome que o sul e sudeste brasileiro tem com o nosso nordeste, os EUA têm com o país latino. Classificam o povo mexicano como preguiçoso, mentiroso, aproveitador e criminoso. Óbvio que isso não é real, assim como os nordestinos – nossa salvação, os mexicanos são um povo trabalhador, justo, e muito receptivo. Há realmente uma questão de segurança pública que preocupa seu novo presidente, López Obrador, mas isso não significa que toda sua nação é uma facção do narcotráfico, como Trump vende para o imaginário da população dos EUA com a mídia que o apóia.

Foto: Carlos Barria / Reuters

O preconceito e mimo de Trump, com alvo na população do México, e cidadãos principalmente da América Central, que pelo país tentam chegar aos EUA em busca de melhor qualidade de vida – muitas vezes essa qualidade de vida é ter o que comer e onde dormir – está realmente afetando um povo. Mas é o seu. Já são cerca de 800 mil trabalhadores sem salários, e o presidente afirma que a paralisação pode levar “meses, até anos”, se sua vontade não for feita. Esse congelamento é comum no país, e desta vez está sendo o mais longo de sua história, com 23 dias até o momento. Acontece que nas últimas ‘midterm elections’, as eleições parlamentares no país, que são separadas da presidencial, o Congresso elegeu maioria Democrata, partido oposto ao de Trump, do partido Republicano. E não foi qualquer parlamento que foi eleito.

Parte das novas congressistas dos EUA. Foto: Martin Schoeller para Vanity Fair

Com maior número de mulheres eleitas, duas muçulmanas (uma refugiada), duas indígenas, todos esses marcos pela primeira vez na história dos EUA, ele encontra uma oposição forte e combativa no Congresso, formado por representantes da diversidade e da classe trabalhadora, que certamente farão sua vida muito mais difícil. O próprio partido do presidente tem se colocado parcialmente contrário a algumas de suas decisões, o que faz com que não seja maioria nem dentro de seu campo por razões como alianças com a Rússia, que estão sendo investigadas pelo FBI, parceiros que estão mergulhados em escândalos de corrupção e medidas extremistas.

Filhos e filhas de imigrantes latinos, alguns deputados não aceitarão a agenda racista, sexista e preconceituosa de Donald Trump e, agora com poder, farão o possível para impedir que decisões como a construção de um muro que não faz sentido em um mundo globalizado, em um país formado por imigrantes, além de representarem uma população que está cansada de retrocessos. O país que se coloca como bastião da democracia, pode, talvez, retomar esse título. E quem sabe, agora pode ser mais fácil que tirar doce de criança, já que uma está brincando de presidente do país que ainda é a maior potência do mundo, mesmo perdendo esse espaço atualmente para a China.