Mulheres negras eleitas farão mandato de luta na Câmara dos Deputados
Nove mulheres negras foram eleitas para o Congresso Nacional neste ano, que terá 94 mulheres no total – 18% das cadeiras. Bancada negra cresceu 9% com 135 parlamentares negros.
Nove mulheres negras foram eleitas para o Congresso Nacional neste ano, que terá 94 mulheres no total – 18% das cadeiras. Bancada negra cresceu 9% com 135 parlamentares negros
Por Mauro Utida
Das 94 mulheres eleitas para a Câmara dos Deputados, nove são negras e irão ocupar as cadeiras do legislativo representando os partidos PT, PSOL, PCdoB e REDE. Em relação a 2018, o número de mulheres cresceu 22%, mas ainda representa apenas 18% do total. Já o número de mulheres negras diminuiu cinco cadeiras, queda de 38%.
Porém, o número de parlamentares negros também subiu de 124 para 135, aumento de 8,8%, segundo fonte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Das nove parlamentares negras, duas foram reeleitas e ambas pelo Rio de Janeiro: Benedita da Silva (PT-RJ) e Talíria Petrone (PSOL-RJ). Enquanto Bené vai para o seu quinto mandato aos 80 anos de idade, Talíria se reelege pela primeira vez e ambas têm os mandatos pautados pelo combate ao racismo e na luta pelos direitos das mulheres pretas e periféricas.
Quem entra fazendo história é Erika Hilton (PSOL-RJ) que – ao lado de Duda Salabert (PDT-MG) – são as primeiras deputadas trans eleitas para o Congresso Nacional. As duas já passaram por cargos dos legislativos locais antes de chegar à Câmara dos Deputados, com votações recorde em seus estados.
As novas caras da bancada feminina negra também é jovem e querem renovar a cara do Congresso Nacional. Dandara se elegeu deputada federal aos 28 anos pelo PT de Minas Gerais, após ser a vereadora mais votada de Uberlândia.
Outro feito histórico é da vereadora de Curitiba Carol Dartora (PT) que foi eleita deputada federal neste domingo (2), sendo a primeira parlamentar preta do Paraná a conseguir uma cadeira na Câmara Federal. Aos 39 anos, a professora recebeu 130.654 votos e chega ao segundo cargo político.
Jack Rocha também foi a primeira mulher preta eleita deputada federal pelo Espírito Santo. A presidente do Partido dos Trabalhadores capixaba foi eleita com 51.317 votos e foi a oitava candidata mais votada do estado.
Pelo Rio Grande do Sul, Daiana Santos e Denisse Pessôa, repetiram o feito e se tornam as primeiras mulheres negras a serem eleitas deputadas federal pelo estado gaúcho. Aos 40 anos, Daiana é vereadora de Porto Alegre foi a terceira mais votada do estado, enquanto Denise exerce seu quarto mandato na Câmara dos Vereadores de Caxias do Sul, casa da qual é presidente desde 2022.
Esta bancada negra terá uma importante aliada, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva que se elegeu pela REDE de São Paulo e volta ao parlamento depois de 11 anos. Ela se se soma a bancada negra feminina eleita neste domingo para fazer frente à bancada do boi, com propostas em defesa do meio ambiente.
Veja quem são as candidatas negras eleitas:
Daiana Santos (PCdoB-RS)
Denise Pessôa (PT-RS)
Carol Dartora (PT-PR)
Erika Hilton (PSOL-SP)
Benedita da Silva (PT-RJ)
Dandara (PT-MG)
Taliria Petrone (PSOL-RJ)
Jack Rocha (PT-ES)
Marina Silva (REDE)
Eleitorado feminino
Apesar da pouca representação em esferas de poder, as mulheres são a maioria das pessoas aptas a votar nessas eleições (52,65%). A maior parte das eleitoras brasileiras (5,33%) está na faixa que vai dos 35 aos 39 anos, seguida por mulheres que têm entre 40 e 44 anos (5,32%) e pelas que possuem de 25 a 29 anos (5,20%). Entre as eleitoras, há 87.400 mulheres com 100 anos ou mais.
O número de eleitoras também é maioria no exterior. Das 697.078 pessoas que moram fora do País e se habilitaram para votar para o cargo de presidente da República, 408.055 (59%) são mulheres e 289.023 (41%) são homens.
A coordenadora do projeto Pretas no Poder, Joyce Souza Lopes, lembra que quando se fala sobre representatividade, devemos partir do dado demográfico que nos informa que 54% da população brasileira é negra, e que as mulheres negras formam o maior grupo populacional do país, sendo 28%.
“Então, a conta não fecha, né?! Se somos 28%, não há possibilidade de representatividade em uma taxa de 2% ocupação de cadeiras eletivas, então é uma lacuna gritante e extremamente violenta. O impacto dessa expressão do racismo estrutural são os racismos institucionais. Um grupo que é maioria social é condicionado a incidir enquanto minoria nos espaços de tomada de decisão”, declara a coordenadora do projeto que visa a participação política, representatividade e segurança de ativistas negras, do Instituto Odara.
Justiça Eleitoral
Os resultados finais deste domingo poderão ser alterados em decorrência de eventuais recursos decididos pela Justiça Eleitoral. O Judiciário analisa ações sobre abuso do poder econômico e político nas eleições, ou se o candidato registrado de fato tem todos os requisitos para exercer o cargo.