Nessa semana, o aclamado cineasta estadunidense e referência internacional no trabalho ativista pelas causas afroamericanas, completou 66 anos

Foto: Maciek Jasik/GQ

Por Lucas Santana

Com mais de 40 anos de carreira, Spike Lee é ícone da produção audiovisual afrocentrada. Seu vasto currículo reúne a direção, roteiro e produção de filmes, séries, videoclipes e comerciais de TV. Seu olhar apurado e político para as questões raciais lhe garantiu o status de referência política dentro e fora do campo cinematográfico. Para celebrar a sua existência e contribuições, reunimos aqui alguns fatos sobre sua vida.

Origens

Shelton Jackson Lee nasceu em 20 de março de 1957 na cidade de Atlanta, mas cresceu no Brooklyn, em Nova York, lugar que contribuiu com sua consciência social desde cedo. Filho da professora de arte e literatura negra, Jacqueline Carrol, o nome Spike é como sua mãe o chamava na infância. Seu pai, Bill Lee, músico e compositor de jazz, trabalhou na trilha sonora de alguns de seus filmes como “Ela Quer Tudo” (1986) e “Faça a Coisa Certa” (1989).

Início da carreira

Seu filme, “Joe’s Bed-Stuy Barbershop: We Cut Heads” (1983), foi resultado da sua pós-graduação na Universidade de Nova York (NYU) e lhe rendeu o prêmio Student Academy Award, categoria do Oscar que premia produções estudantis. O cineasta Ang Lee trabalhou na obra como Assistente de Direção e seu pai, Bill Lee, assina a trilha sonora.

Fazendo a coisa certa

“Faça a Coisa Certa” (Do the Right Thing, 1989), seu terceiro longa-metragem, teve duas indicações ao Oscar de 1990, nas categorias Melhor Ator Coadjuvante pela atuação de Danny Aiello e Melhor Roteiro Original para o texto de Spike Lee. O filme foi um grande sucesso na época, lhe rendendo indicações e vitórias ao redor do mundo em premiações e listas da crítica especializada como Melhor Filme e Melhor Diretor.

Spike e Tonya

Spike Lee é casado com a cineasta, produtora, autora e advogada Tonya Lewis Lee, desde 1993. A parceria entre os dois também está presente no campo profissional. Tonya foi Produtora Executiva da série “Ela Quer Tudo” (She Gotta Have It, 2017-2019), dirigida e escrita por Spike, baseada em seu filme homônimo de 1986.

Foto: Johnny Nunez/WireImage

Lee no Oscar

Apesar da sua indicação pela Academia em 1990, dezenas de seus trabalhos notórios nos anos seguintes passaram despercebidos pelos votantes. Desde 2015, o cineasta endossa o movimento “Oscar So White”, denunciando a sistemática ausência de pessoas negras entre as indicadas na premiação. Depois de 39 anos de carreira ele saiu vitorioso como o filme de Melhor Roteiro Adaptado, por “Infiltrado na Klan” (BlacKkKlansman, 2017), que teve mais outras 5 indicações, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.

Presidente em Cannes

Em 2020 o cineasta se tornou a primeira pessoa negra a presidir o júri no Festival de Cannes na França. Com isto, Lee retornou como presidente ao festival que lhe premiou com o Prêmio da Juventude por “Ela Quer Tudo” (She Gotta Have It, 1986) e com o Grande Prêmio do Júri por “Infiltrado na Klan” (BlacKkKlansman, 2017). Durante a cerimônia de abertura ele fez menção ao Brasil ao citar Trump e Bolsonaro, junto a Putin, como gângsters do mundo.

Veja o vídeo com a declaração na cerimônia de abertura:

Outras linguagens

Além do trabalho com cinema, Spike Lee tem em seu currículo a direção de videoclipes, sendo “They Don’t Care About Us”, de Michael Jackson, um dos mais conhecidos e extremamente popular no Brasil por uma de suas versões com cenas gravadas com o Olodum e imagens de Salvador e do Rio de Janeiro. Em 2020 a canção recebeu uma nova versão do videoclipe lançada no contexto da efervescência do movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), após o assassinato de George Floyd por policiais nos EUA, durante os primeiros meses da pandemia de Covid-19.

Assista ao clipe da versão de 2020:

Vai, Brasil, vai!

Seu ativismo não se restringe aos EUA, tampouco às questões raciais. Em suas entrevistas e declarações ao longo de sua vida, como por meio de suas obras, é visível o quanto ele enxerga e procura dar luz à complexidade das opressões e explorações que ocorrem em todo o mundo.

Nesse sentido, o Brasil tem um espaço de relevância, sendo cenário e tema do seu documentário “Go Brazil Go” (2014), no qual ele aborda as mudanças socioeconômicas dos pretos e pardos no país a partir de uma série de políticas públicas praticadas nos anos 2000 e início dos 2010.

Na ocasião, entrevistou pessoas com destaque e relevância cultural e política no Brasil como Lázaro Ramos, o grupo Racionais MC’s, Gilberto Gil e o único senador negro do Congresso até o momento, Paulo Paim, tendo sido apresentado pelo mesmo na casa.

Veja o vídeo de Paulo Paim Apresentando Spike Lee:

Em sua passagem por Salvador, durante o carnaval de 2013, reforçou um dos discursos recorrentes nas suas obras, o papel da mídia na vida contemporânea, ao falar sobre a importância das Mídias Alternativas na luta pela diversidade nos meios de comunicação. Lembrou também do fato de ter ido à Bahia pela primeira vez, 17 anos antes, com Michael Jackson.

Assista a entrevista para a TV Correio Nagô:

O que Spike Lee indica para assistir?

Perguntado em uma entrevista durante a divulgação de seu filme “Chi-Raq” (2015), sobre quais filmes que as pessoas provavelmente não conheciam, mas deveriam assistir, Spike Lee citou:

“A Batalha de Argel” (La battaglia di Algeri, 1966) – Filme que ficou banido na França durante anos, conta a história da luta da população da Argélia, em África, contra o colonialismo francês no território. Com direção de Gillo Pontecorvo a obra é inspirada em fatos reais que aconteceram entre 1954 e 1962.

“Um Rosto na Multidão” (A Face in the Crowd, 1957) – A história gira em torno da ascensão ao estrelato de Larry Rhodes no rádio e TV, após ser descoberto pela produtora Patricia Neal. Spike afirma que o filme apresenta muito do que estava acontecendo nos EUA no fim da década de 50, sobretudo a respeito da cultura midiática da época.

“A Montanha dos Sete Abutres” (Ace in the Hole, 1951) – Um dos clássicos do cineasta Billy Wilder e estrelado por Kirk Douglas, de acordo com Lee, o filme retrata o que as pessoas fazem quando se prostram diante do “todo-poderoso dólar”. Na história, um jornalista vê sua oportunidade para o sucesso ao explorar numa reportagem o fato de um homem ter ficado preso numa mina ao buscar por relíquias indígenas.

Veja o vídeo da entrevista:

Referências:

Wikipedia – Spike Lee;

Wikipedia – Joe’s Bed-Stuy Barbershop: We Cut Heads;

Wikipedia – Bill Lee;

IMDb – Joe’s Bed-Stuy Barbershop: We Cut Heads;

IMDb – Do The Right Thing;

Wikipedia – Tonya Lewis Lee;

G1 – Falta de diversidade entre indicados ao Oscar 2015 causa discussão;

G1 – Oscar 2016: atores negros estão ausentes pelo 2º ano seguido;

G1 – Spike Lee boicota o Oscar 2016 por ausência de atores negros na lista;

CartaCapital – Spike Lee será primeiro negro a presidir júri do Festival de Cannes;

IMDb – Go Brasil Go!;

Vai Ser Rimando – “Go Brazil Go”: Spike Lee entrevista Racionais e Criolo para documentário sobre o País;

Correio Nagô – Cineasta Spike Lee está em Salvador para gravar cenas do seu novo documentário.