Foto: Mídia Ninja

A revelação de que o chefe da Polícia Civil e responsável pelas investigações, o delegado Rivaldo Barbosa, é um dos suspeitos de tramar o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco foi a que mais provocou perplexidade em mim e na parte da sociedade que se importa com mais essa mancha de sangue e de perversidade em nossa frágil democracia. A prisão dele e de outros acusados de envolvimento nas mortes de Marielle e Anderson Gomes vieram logo após completar seis anos do crime, e nosso espanto se fez porque Rivaldo foi uma das primeiras autoridades a receber familiares de Mari e de Anderson, demonstrando empatia e comprometimento com a resolução do caso, assim como ouvir a equipe e saber de tudo da vida de todas as pessoas do entorno de Mari.

Diante de tudo que fora noticiado e dito até agora, para mim, como pessoa próxima de Marielle, quem acendeu em minha trajetória a chama da política institucional, esse caso ainda não está encerrado, pois a sensação é de que muitas outras pontas continuam soltas. Situações ocorridas nesses seis anos de descaso, trocas no comando das investigações, já amplamente divulgadas, uma série de ações para dificultar as investigações desde o primeiro momento, tais como o desligamento das câmeras, dificuldades internas, a exemplo da tentativa de ações externas de ingerência na atuação das promotoras responsáveis pelo caso, nos levam a crer que não fechamos esse ciclo. Avançamos no entendimento dos mecanismos que culminaram com as execuções da então vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes.

Na outra ponta, uma série de atores envolvidos no submundo do crime organizado no estado do Rio de Janeiro, a milícia infiltrada na política, nos levam a crer que ainda há muito a ser desvendado, embora tenha havido um salto, e que no Rio de Janeiro não existe um estado paralelo miliciano, a milícia é o Estado.

Em meio a tudo isso, a Polícia Federal afirma que metade da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro está envolvida com as milícias. Quando recebemos afirmações como estas, nos damos conta de que a atividade parlamentar se tornou de alto risco, principalmente para nós mulheres negras, que estamos na maioria das vezes descobertas e sem a proteção adequada. Que seja um sinal de alerta e chame a atenção para a responsabilidade das organizações partidárias, porque se não estivermos inseridas em estruturas que garantam a manutenção mínima de segurança, estamos à mercê de ainda maiores violações e abruptos interrompimentos.

A chegada de pessoas como nós, mulheres negras, é uma ação que não há mais como conter. É um processo contínuo e ascendente, não permitiremos volta e não seremos interrompidas nesta ascensão. Por isso mesmo, é necessário que a solução desse caso tão emblemático se configure como um exemplo da atuação das forças democráticas, no sentido de entregar à sociedade de forma geral uma resposta final. Por parte das organizações, dos partidos e da sociedade que haja conscientização que essas atrizes, que põem seus corpos e trajetórias para servir à sociedade, precisam do cuidado e proteção dentro desse novo tempo.

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