Dia desses, serelepando pelo Tiktok, cheguei num vídeo em que uma grávida era carregada nos braços por um homem numa estrada de lama pelo interior do Maranhão. O vídeo tinha um sujeito narrando o drama dela e, com ataques ao Governo do Estado, dizia que a culpa de todo aquele pesadelo era da “esquerda”. A estrada, em questão, era uma BR – de responsabilidade exclusiva de Bolsonaro.

As inúmeras curtidas e milhares de visualizações no vídeo já revelavam o estrago causado. Já não fazia diferença explicar se a via era uma BR ou MA (ou seja, de responsabilidade do governo local). Para muitos usuários que cruzaram com aquela mensagem, a grávida sofria por causa dos “comunistas”. E não por causa da incompetência de Bolsonaro.

É fato que o Tiktok virou uma espécie de febre para usuários baby boomers, embora ele tenha nascido de um processo de consumo da Geração Z. Os vídeos rápidos, as trends, as modinhas, as danças de coreografia duvidosa captaram bem o gosto da juventude, mas foi a possibilidade de ganhar grana e a possibilidade de pregar a palavra da extrema-direita que os tios do zap saíram das catacumbas do Facebook e invadiram o aplicativo queridinho do momento.

É possível encontrar muito conteúdo pró-Governo Federal em poucas visitações, mas dependendo da forma como você interage na plataforma (desde a quantidade de tempo que você assiste a um tipo de vídeo até se você comenta) você já é direcionado para uma bolha e o pesadelo ocorre em escala menor. As pessoas até brincam “vou comentar para ficar desse lado do Tiktok” pelos vídeos. E ficam mesmo.

Mas o firehosing (uma chuva de mentiras) continua fervendo.

Mesmo que você seja um consumidor de conteúdo progressista ou de influenciadores de Esquerda, vez ou outra você se depara com a chuva de mentiras bolsonaristas na plataforma. Seja contra Lula, seja contra o PT, o PCdoB ou o Boulos. Elas estão lá. Dia desses vi um vídeo gringo – provavelmente gravado na Ásia – de pessoas comendo ratos e que o usuário responsável pelo post dizia ser no “nordeste petista”. Horror.

Isso é extremamente grave por causa da dinâmica do Tiktok. Ou seja, vídeos rápidos, de consumo rápido, de viralização extremamente fácil. É a multiplicação das fake news tanto quanto ocorre no zap.

O bolsonarismo cresce no Tiktok enquanto a Esquerda lentamente vai ganhando seu espaço. É fato, sim, que há uma série de criadores de conteúdo progressista extremamente bons e com engajamento interessante (procure por @bragaricardoo), mas a onda de disseminação de mentiras cresce mais rápido na plataforma do que a nossa turma. Enfim, o drama de sempre que já foi do Facebook, passa pelo Instagram e agora permeia o Tiktok.

A Esquerda – seja de homens e mulheres públicos, seja de cidadãos comuns criadores de conteúdo – precisa correr nessa disputa. Quanto mais millennials torcerem o nariz para o aplicativo, mais estaremos fritos no futuro.

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