Foto: John Baxter Taylor Jr / Arquivo theolympian.net

Por Álvaro Lima

Para se comentar sobre atuação de atletas que representam minorias nos jogos Olímpicos, se faz necessário primeiro se fazer entender o que é uma minoria sob a óptica de ciências humanas como Sociologia, Filosofia e História. O que é algo relativamente simples. Pense na democracia da Grécia antiga. Nela os homens adultos podiam votar e decidir os rumos de sua sociedade. O que fazia com que mulheres, estrangeiros e escravos ficassem sem representatividade, sem terem suas necessidades atendidas e direitos reservados. Mesmo que fossem a maioria da população em números absolutos. Isso é ser uma minoria. Resumidamente é estar ou pertencer a uma parcela da sociedade que seja descriminada, marginalizada, excluída, desatendida e, não poucas vezes, perseguida, ofendida e até mesmo morta.

Um outro ótimo exemplo são os Estados Unidos da América da virada do século XX. Um lugar marcado pela forte segregação racial e exclusão de negros. Porém esse contexto sociopolítico não impediu que os Estados Unidos recebessem a honra de sediar a terceira edição dos jogos Olímpicos em 1904. Na cidade de Saint Louis, no interior do meio oeste norte americano. Um lugar que nunca foi exatamente conhecido por ser um local de tolerância e harmonia entre brancos e negros. Inclusive ocorrendo inúmeros protestos de entidades de afro americanos que pregavam o boicote ao evento em resposta a construção de arquibancadas segregadas para o público “não se misturar”.

Nesse contexto turbulento e caótico até certo ponto, o aluno da faculdade de História da Universidade pública de Wisconsin, George Poage consegue uma proeza. Foi o primeiro atleta pertencente a uma minoria a conquistar medalhas nos jogos Olímpicos. E sim, tu leu certo. Medalhas. Está no plural porque foram duas! Dois bronzes. Nas corridas com obstáculos de 200 e na de 400 jardas. Nada mais apropriado.

Foto: John Baxter Taylor Jr / Arquivo theolympian.net

Quando um atleta de uma minoria que recebe uma medalha olímpica ele não está apenas recebendo a mais alta intitulação desportiva que um atleta pode receber. Ele está demonstrando que seu povo ou que sua camada social tem tanto valor quanto qualquer outro ser humano. Que são dignos de receberem tanto respeito quanto qualquer outro cidadão. Ele resgata a autoestima de seus pares e serve como uma referência para os mais jovens.

E se estou falando de atletas que conseguem competir de igual para igual, ultrapassando dificuldades que vão muito além do universo desportivo. O que falar então do atleta que foi ainda mais alto e ingressou no panteão dos campeões Olímpicos? Pois foi isso o que aconteceu quatro anos mais tarde na quarta edição Olímpica que fora realizada em Londres. A capital britânica foi o palco onde John Baxter Taylor Junior, um filho de escravos nos Estados Unidos, conseguiu escrever o seu nome na eternidade. Vencendo a corrida de revezamento e se transformando no primeiro campeão das minorias.

A nota triste é que não há muito o que se falar da posterioridade do feito de John Baxter. Não é que eu não queira ou que não haja documentos históricos sobre ele. A sua vitória é histórica. Mas infelizmente ele veio a falecer menos de cinco meses depois. E em seu obituário no The New York Times, ele foi considerado pelo jornal como “o maior corredor negro do mundo”. Um feito e tanto.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Renata Souza

Abril Verde: mês dedicado a luta contra o racismo religioso

Jorgetânia Ferreira

Carta a Mani – sobre Davi, amor e patriarcado

Moara Saboia

Na defesa das estatais: A Luta pela Soberania Popular em Minas Gerais

Dríade Aguiar

'Rivais' mostra que tênis a três é bom

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

André Menezes

“O que me move são as utopias”, diz a multiartista Elisa Lucinda

Ivana Bentes

O gosto do vivo e as vidas marrons no filme “A paixão segundo G.H.”

Márcio Santilli

Agência nacional de resolução fundiária

Márcio Santilli

Mineradora estrangeira força a barra com o povo indígena Mura

Jade Beatriz

Combater o Cyberbullyng: esforços coletivos