Por Brunella França / Copa FemiNINJA

Estados Unidos. Inglaterra. Holanda. Suécia. As estadunidenses já levantaram o troféu de campeãs do mundo três vezes desde que a Copa do Mundo de Futebol começou a ser disputada entre as mulheres: 1991, 1999 e 2015. Holanda, Inglaterra e Suécia nunca chegaram a uma final e buscam uma vaga inédita.

Se no início de junho, antes da bola rolar, tivessem me dito que essas seriam as quatro seleções semifinalistas da Copa do Mundo da França, eu olharia para esse prognóstico e diria: “o que a Suécia está fazendo ali?”

Até aqui, foram 52 jogos e poucas surpresas dentro de campo. Seleções das América do Sul e Central, da África, da Ásia e da Oceania se despediram do Mundial nas oitavas. Ficaram apenas as seleções europeias, onde o futebol feminino mais cresce hoje no mundo, e os Estados Unidos que, nas sete edições de copas anteriores, nunca havia saído antes das semifinais e têm a camisa mais premiada entre as seleções femininas.

Antes da bola rolar, falávamos já de EUA, sempre favoritas e com o melhor elenco da Copa, Inglaterra e Holanda com bons conjuntos, jogo coletivo e talentos individuais. Citávamos a França e que as donas da casa tinham chances de fazer história. Até mesmo a Alemanha, tradicionalíssima e com títulos no currículo para se impor e não ser nunca subestimada.

Foto: Bernadett Szabo / Reprodução Aposta10 / Benoit Tessier / Reprodução @stephhoughton2

Após o apito das árbitras, os resultados foram aparecendo, favoritismos se confirmando. A Inglaterra, primeira seleção a chegar às semi, venceu Camarões nas oitavas e passou pela Noruega nas quartas sem tanto esforço assim. Os Estados Unidos suaram muito para furar a retranca espanhola, só conseguiram em dois pênaltis, e depois tiveram que confrontar o talentoso time da França, em um jogo bastante tenso, para estar novamente entre as quatro melhores seleções do mundo.

A Holanda mandou de volta pra casa o Japão, que esteve nas duas últimas finais de Copa, e a Itália, maior surpresa da Copa até então.

E a Suécia? Passou em segundo no grupo liderado pelos Estados Unidos, venceu o Canadá no jogo mais tático dessa Copa. E pela primeira vez, em 24 anos, derrotou a Alemanha.

Torneio após torneio, a Alemanha sempre se deu melhor em cima das suecas, mas no último sábado, 29 de junho, no Roazhon Park, as comandadas pelo técnico Peter Gerhardsson escreveram uma história diferente. Sofia Jakobsson e Stina Blackstenius eliminaram marcaram os dois gols que garantiram a presença da Suécia nas semifinais da Copa do Mundo.

Em 2016, as duas seleções se enfrentaram na final das Olimpíadas do Rio. A Alemanha ficou com o ouro. Desta vez, apostando na capacidade de se manter compacta contra o forte ataque alemão, focada e ágil para se reagrupar com ritmo de jogo, e sair pelos lados do campo, a Suécia venceu e agora enfrenta as atuais campeãs europeias – a Holanda – sonhando com uma final inédita.

O que esperar dos próximos dois jogos?

Pelo que apresentaram até aqui, não é exagero dizer que Inglaterra X Estados Unidos é uma final antecipada. As leoas treinadas por Phil Neville vêm sendo a seleção mais consistente do mundial. Uma defesa sólida, meio campo criativo e um setor esquerdo que tem funcionado com maestria pelo entrosamento de Lucy Bronze, candidata a melhor jogadora da Copa, Nikita Parris, Jill Scott e Ellen White – talvez a centroavante menos falada e a mais efetiva do mundial até aqui.

As estadunidenses apostam em seu jogo intenso e objetivo, na forma compacta como jogam e na movimentação que fazem mesmo sem a bola nos pés. Às vezes, a impressão que se dá é que os EUA têm 15 e não 11 jogadoras em campo. Em todos os jogos da Copa, elas fizeram um gol antes de o cronômetro marcar 20 minutos em campo, colocando ainda mais pressão sobre suas adversárias. Com as duas artilheiras da competição até aqui – Alex Morgan e Megan Rapinoe têm cinco gols cada uma – e o ataque mais efetivo, o que se pode dizer é que a Inglaterra terá que suar muito a camisa – diferente das oitavas e das quartas – se quiser vencer esse jogo.

E Megan Rapinoe, que marcou os quatro gols da fase decisiva da competição para os Estados Unidos, é mais do que candidata a melhor da Copa. Ativista fora das quatro linhas pela igualdade de gêneros e pelos direitos de pessoas LGBTQIA+, Rapinoe ainda tem o feito de incomodar a Casa Branca habitada por Donald Trump.

O palpite é que será um dos melhores jogos da história do futebol feminino, daqueles de tirar o fôlego, no qual tudo pode acontecer. O jogo é nesta terça-feira, dia 2, às 16 horas.

Holanda e Suécia, por outro lado, chegam pela primeira vez às semifinais de uma Copa. A invasão holandesa em Lyon, com a torcida mais animada e festeira do mundial, é certa de acontecer. Dentro de campo, teremos uma equipe que tem fragilidades defensivas (Holanda) contra outra que tem fragilidades de criação para o ataque (Suécia).

O elenco holandês foi pouco rodado nessa Copa, a técnica Sarina Wiegman mexeu pouco no time e o resultado disso é que temos uma das principais jogadoras, a velocista Van de Sanden, cansada. Ficou nítido no jogo contra a Itália a falta de ritmo dela e o time melhorou de rendimento com a entrada de Beerensteyn.

Espera-se muito de Lieke Martens, melhor jogadora do mundo em 2017, e da camisa 10, Daniëlle van de Donk. E os 40 minutos finais do jogo contra a Itália foram a melhor apresentação da Holanda na Copa até aqui.

A Suécia é o time que joga por uma bola. Um contra-ataque rápido, uma ligação direta para a atacante entre as zagueiras do time adversário. É o time mais defensivo dessas semifinais e exige paciência e astúcia de seu adversário para conseguir furar a bem montada retranca sueca.

E, após chegar à área, as atacantes holandesas ainda terão pela frente um paredão chamado Hedvig Lindahl, melhor goleira da Copa até aqui na minha opinião. A Suécia sempre teve jogadoras de futebol talentosas, mas o resultado final nem sempre esteve apareceu. No sábado, elas derrotaram a Alemanha em seu próprio jogo.

Na quarta-feira (3), às 16 horas, Holanda e Suécia se enfrentam numa partida inesperada. Mas não por isso menos emocionante. São duas seleções que chegam com a certeza de que elas podem tudo, inclusive serem campeãs mundiais.