Policial Federal defende execuções sumárias em favelas durante intervenção militar no RJ

Por Laio Rocha

A pesquisadora Luciana Zaffalon foi intimidada nesta terça, 19, pelo Coordenador Geral da Polícia Federal, Elvis Aparecido Secco, durante o painel “Controle de drogas e militarização da segurança: reflexões sobre a experiência nas Américas”, na 62º Comissão de Drogas Narcóticas da ONU (CND). A situação ocorreu durante exposição de dados sobre a letalidade policial durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, de acordo com a Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD)

Zaffalon, que é assessora internacional da PBPD, apresentou o relatório do Observatório da Intervenção, que demonstra o crescimento de 35% nas mortes de civis durante a ocupação do exército.

Neste momento, Secco a interrompeu mencionando que não se pode generalizar o uso da palavra “pessoas” uma vez que não se trata de inocentes. “Para mim, são pessoas criminosas. No Rio de Janeiro há mais pessoas que cometem crimes contra a polícia [do que o contrário]”, completou.

A situação causou constrangimento nos participantes do fórum internacional, que é responsável pela formulação de políticas de drogas a nível global. A cientista respondeu afirmando que pessoas inocentes também sofrem os impactos da letalidade policial e que, de qualquer forma, a lei brasileira não prevê a pena de morte. “Se essas pessoas são consideradas criminosas, elas devem ser investigadas e julgadas”, apontou.

Para a pesquisadora, os questionamentos tinham o objetivo de intimidá-la e desprezar os dados.

“Quando ressaltei que se tratavam de dados oficiais fui interrompida pelo agente federal que disse ter ele também seus próprios dados. Simplesmente não é possível travar um debate democrático nesses termos”. Ela ainda salientou que é estarrecedor ouvir um agente brasileiro defender a execução sumária em um fórum da ONU. “A mensagem que queria passar era essa: a de intimidação”.