Diante da maior pandemia contemporânea da história, a espécie Homo sapiens se destaca ao promover inusitadas vivências virtuais, sendo algumas fundamentais em tempos de quarentena e enfrentamento do covid-19, e outras, digamos, sistematicamente inúteis. Dentre o mau uso das vias hegemônicas de fibra ótica, temos o enfadonho trendtops de FALOS. Sim, estamos falando do #PINTOAWARDS, concurso informal realizado no Twitter que este ano chega à sua quarta edição.

O #PINTOAWARDS traz à tona o medo e os traumas freudianos inoculados no inconsciente coletivo.

Como no caso de “crianças feridas e abobadas” que, quando estão com uma tal de “gripezinha” correm escondidas para o Whatsapp da mãe, procurando colo – ou biscoitos -, mesmo quando deslegitimam a seriedade e a gravidade da conjuntura, por meio da defesa de uma posição heterocêntrica que deixa à deriva vidas e comunidades mais vulneráveis.

O tedioso concurso, que se fortaleceu e expandiu para a avaliação de outras partes do corpo – #BUCETAWARDS e #BUNDAWARDS – também serve como demonstração da relação patriarcal falocêntrica sob a qual nossa sociedade foi criada, evidenciando o abalo por trás de uma disputa ridícula em tempos de quarentena: aspectos da vida essenciais e a convivência horizontal humana em troca de desejos egoístas e da satisfação de prazeres do chamado provedor.

Temos, portanto, um grito violento e desesperado – das “crianças” – que pode ser propagado de várias formas e por diversas vias, gerado pela incapacidade de lidar com a crise nacional, além da necessidade de atacar manifestações coletivas e solidárias.

Dessa forma, aquele bebê mimado chora e grita nas redes, emocionado e abalado, implorando: “SOCIEDADE, NÃO SE ESQUEÇA DE MIM!”.

Tratado como uma brincadeira de moleques, assim como são tratados países por gestores que insistem em não reconhecer a gravidade da situação, o caminho patriarcal e falocêntrico de gestão é um caminho muito mais danoso para se preservar intacta e protegida uma comunidade de uma situação tão pavorosa. O país, neste momento, revisita seus próprios traumas.

Enquanto as atitudes falocêntricas lutam por seu espaço e pela atenção das pessoas, no meio, lembrem-se, de uma pandemia global reconhecida pela OMS, há aquelas vivências virtuais valiosas que, de forma colaborativa, fazem diferença circunstancial nesses tempos sombrios. Centenas de pessoas se juntam para arrecadarem doações de EPIs para hospitais; GTs ao redor do mundo usam a internet de forma produtiva para construir maquinário para hospitais; ou geram redes de doação de cestas básicas. Como diria o geógrafo Milton Santos, “A tecnologia deve ser usada para o bem da sociedade”.

Portanto, é hora de nos reinventarmos e a internet será nossa via de manifesto, seja por meio da cobrança por uma gestão pública eficiente e humanizada, seja propondo em fóruns e assembléias virtuais alternativas descoloniais de solução de problemas.

É hora de pararmos para pensar como usar a internet e expandir sua realidade, não mais para infames lógicas especulativas de poder e sim para a comunhão, para o poder gerador de ideias e de criatividade, na desobediência tecnológica, e para exercer o papel do qual ela fora desempenhada: o de compartilhar saberes.

É tempo de revolução da terra, de repensar o uso das vias que entram de forma violenta nos mares com seus cabos, com a principal função de masturbar um sistema financeiro, sem pedir licença à água. É tempo de educar as tais “crianças” que buscam incansavelmente por atenção e legitimação de suas masculinidades. É tempo de desconstruir atitudes falocêntricas, como o #PINTOAWARDS, e focar no que é fundamental para nossa sobrevivência diante de uma pandemia global. É tempo de aprendermos com a natureza como ela se regenera. E fazermos o mesmo.

Em meio ao caos do home-office, crise alérgica e espirros infinitos, contei com a ajuda da Profa. Amanda, pesquisadora, arte educadora (@prof_amandacmp) e da jornalista investigativa Bianca Ribeiro (@mooncak_e) para a construção e revisão desse texto. #vamosjuntas

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