Quase metade das pessoas grávidas sofre violência obstétrica
O caso da influencer Shantal Verdelho trouxe um debate de volta sobre algo que acontece com muitas mulheres mas que às vezes nem elas sabem como nomear ou tem conhecimento do que é: violência obstétrica.
O caso da influencer Shantal Verdelho trouxe um debate de volta sobre algo que acontece com muitas mulheres e outras pessoas grávidas mas que às vezes nem elas sabem como nomear ou tem conhecimento do que é: violência obstétrica. A VO inclui recusa de atendimento, impedir a presença de acompanhante no parto, impedir contato de mãe e filho ou submeter a mulher a procedimentos dolorosos, desnecessários e humilhantes. A violência obstétrica também pode ser verbal, física, psicológica, e acontece com pessoas grávidas, em trabalho de parto, em situação de perda fetal e no puerpério.
A pesquisa Nascer no Brasil, realizada entre 2011 e 2012 com 24 mil gestantes, mostrou que 45% delas, que tiveram seus filhos no SUS, relatavam maus-tratos. Cortes desnecessários, manobras como subir na barriga da gestante para acelerar o expulsivo, xingamentos, exposição são relatados.
Uma situação comum e bastante relatada é a indução de cesáreas, que aumenta quando os casos vão para hospitais particulares – segundo dados de 2018 do SINASC (Sistema de Informações de Nascidos Vivos), em São Paulo, 81,1% dos nascimentos na rede particular aconteceu via cesárea. Na rede pública, os números são de 34%. A OMS recomenda que a taxa de cesáreas não seja superior a 15%.
No total, 36% das gestantes passam por tratamento inadequado. E, apesar de todas as pessoas gestantes (incluindo homens transexuais) estarem sujeitas a maus-tratos, há um grupo de risco. São as negras, pobres, grávidas do primeiro filho, jovens e em trabalho de parto prolongado.
Em 2014, a OMS reconheceu a violência obstétrica como uma questão de saúde pública e de violação de direitos humanos. No Brasil, em 2019 o Ministério da Saúde assinou um despacho pedindo que a expressão fosse evitada e, possivelmente, abolida em documentos de políticas públicas. Atendia a uma reivindicação da classe médica, que não aceita o termo.
Isso dificulta que mulheres entendam, denunciem e lutem por direitos no parto porque não conseguem ter reconhecidas as violências que sofrem. É importante buscar ajuda caso desconfie de alguma prática e saber o que pode ou não acontecer no parto, pré e pós parto.