Ocupação em Sete Lagoas segue em alerta após adiamento da ordem de despejo
Despejo de ocupação que abriga 97 crianças vai contra a proibição de despejos na pandemia.
Desrespeitando o próprio compromisso de entregar casas aos moradores da ocupação Cidade de Deus, em Sete Lagoas, Minas Gerais, o prefeito Duílio de Castro, em consonância com o governo de Romeu Zema, montaram operação para despejar cerca de 95 famílias que vivem no local há mais de um ano. Segundo a prefeitura o espaço é uma terra pública municipal, portanto deve servir aos interesses do município.
A operação ilegal de despejo foi adiada por determinação judicial a pedido da deputada Andréia de Jesus (PSOL), na noite dessa quarta-feira (26) e irá ocorrer, segundo cronograma da prefeitura, na segunda-feira (31).
Há pouco mais de um ano as famílias ocuparam o local como forma de sobreviver à pandemia, já que com a crise sanitária desgovernada, milhares de pessoas ficaram desempregadas, sem renda e consequentemente com fome.
Dentro do espaço, o espírito de coletividade prevalece entre todos, jovens, adultos, idosos e crianças – que são quase metade da ocupação, ao todo são 97. A ocupação conta com uma cozinha coletiva, onde muitos dos alimentos vêm das doações feitas por apoiadores. O espaço onde além do preparo das refeições, também é local de interação entre as pessoas que fazem parte do movimento. Há também a horta e a creche comunitária, não deixando as crianças ficarem sem ensino.
Ontem (27) , em ato de desumanidade tanto do prefeito Duílio quanto da juíza Wstânia Barbosa Gonçalves, responsável do caso, a polícia militar adentrou a ocupação com a finalidade de dar início ao processo de despejo, deixando as famílias apreensivas e preocupadas com sua integridade. Wstânia Barbosa Gonçalves determinou que oficiais de justiça devem comparecer à ocupação para lavrarem um relatório com informações sobre o espaço – número de residências, se há banheiros, quantidade de crianças, fornecimento de energia elétrica e outras.
Segundo o comandante da PM, a ação seria feita de forma tranquila, mas contrariando sua própria palavra, um grupo de policiais entrou pela parte dos fundos da ocupação, onde os moradores estavam totalmente desprotegidos, para fazer o cadastramento das famílias, sem respeitar os acordos feitos anteriormente.
Opções de abrigo apresentadas pelo município depois da emissão da ordem de despejo são lidas como inadequadas pelos moradores, como esclarece a arquiteta Luíza Cabral, ligada à luta pela manutenção da ocupação.
“Hoje, a ocupação é muito organizada, e moradores construíram uma escola, uma cozinha comunitária… E, nesse processo de reintegração de posse, a Prefeitura de Sete Lagoas não ofereceu a eles nenhuma opção viável. Os únicos espaços para onde eles podem ir, de acordo com a prefeitura, são uma escola, que foi oferecida pelo município, ou um abrigo para pessoas em situação de rua que, aliás, já está cheio. Outro ponto é que se trata de um espaço que recebe usuários de drogas, e não é, portanto, adequado para crianças”.
Além da polícia também acompanharam a vistoria, os oficiais de justiça enviados por Wstânia, que não teve nem uma sensibilidade com as pessoas da ocupação e autorizou o despejo das famílias em meio a uma das piores crises sanitárias da história.