Governo estima 4 milhões de brasileiros vivendo em áreas de risco em todo país

Foto: reprodução/Prefeitura de Nova Friburgo

Por Cley Medeiros

As áreas de risco no Brasil ameaçam a vida de 4 milhões de pessoas neste exato momento, de acordo com uma estimativa do Ministério da Integração e de Minas e Energia. A população se compara, aproximadamente, ao número de habitantes de estados como Paraíba e Espírito Santo, por exemplo, conforme o Censo mais atual. A quantidade de brasileiros vivendo em situação de risco é maior que a população do Uruguai, que atualmente registra pouco mais de 3,4 mil habitantes.

O número não é uma novidade. Já era conhecido pela gestão do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PL), mas voltou ao debate de construção de políticas públicas com a tragédia ‘anunciada’ que castiga o litoral de São Paulo, do Rio de Janeiro, e também o Brasil profundo, em áreas longe da costa. Há relatos de deslizamentos com consequências graves em pelo menos nove estados, entre eles Acre, Amazonas e Minas Gerais.

No litoral paulista, cerca de 50 pessoas morreram na região – outras 40 seguem desaparecidas, entre crianças e pessoas idosas. A cidade mais atingida foi São Sebastião.

O número de desalojados e desabrigados no litoral paulista não foi divulgado, mas, em todo o estado de São Paulo, o governo informou que há 1.730 desalojados (que precisaram deixar suas casas e foram para a residência de amigos ou parentes) e 766 desabrigados (que perderam as suas casas e não têm para onde ir) em decorrência das chuvas. Esse é o levantamento mais recente, divulgado nessa quarta-feira (22).

Foto: Tomáz Silva/Agência Brasil

Segundo o Serviço Geológico do Brasil, empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, dados de 30 de janeiro deste ano mostram que 3.938.831 pessoas moram em 13,5 mil áreas de risco espalhadas pelo país. A Secretaria Nacional de Defesa Civil também possui números parecidos, 14 mil áreas no país.

Essas áreas estão sujeitas a eventuais desastres e podem, por exemplo, sofrer com tragédias causadas por fortes chuvas como deslizamentos e enchentes. Pessoas mais atingidas moram em morros ou nas encostas. Pessoas que moram próximas de regiões com alterações no solo pela extração de minérios, por exemplo, também entram no balanço da Defesa Civil.

Corte de Bolsonaro custou vidas

O relatório de Transição apontou um corte de 99% da verba para as áreas de Defesa Civil e Combate à Prevenção de Desastres Naturais pelo governo de Bolsonaro. Os dados se tornaram públicos no final de 2022.

Sem verba, as ações do governo foram congeladas diante de eventos de catástrofes, o que interferiu diretamente na capacidade de ação em situações como a enfrentada agora.

Foto: reprodução/redes sociais

Segundo o Ministério do Planejamento e Orçamento, o projeto orçamentário enviado pelo governo Bolsonaro previa apenas R$ 671,54 milhões para ações de prevenção e gestão de desastres. O valor subiu para R$ 1,17 bilhão após o Congresso aprovar a PEC da Transição, uma proposta que aumentou a previsão de orçamento para 2023 para acomodar uma série de promessas de campanha de Lula.

O orçamento federal previsto para este ano para gestão de riscos e desastres, é o menor em 14 anos, segundo levantamento feito pela Associação Contas Abertas, especialista em orçamentos públicos. É um dinheiro destinado a obras como contenção de encostas, drenagem, estudos de áreas de risco, entre outros, que visam prevenir desastres naturais pelo país.

Prevenção de desastres

O Serviço Geológico do Brasil disponibiliza o mapa online para prevenção de desastres. O mapa apresenta a localização e algumas características de área propensas a serem afetadas por eventos adversos de natureza geológica, como deslizamentos, inundações, enxurradas, fluxo de detritos, quedas de blocos de rochas e erosões.

O mapeamento é feito para caracterizar as áreas sujeitas a perdas ou danos decorrentes da ação de eventos de natureza geológica, destacou o coordenador.

“Quando esse mapeamento é finalizado ele é enviado para a Defesa Civil e outras instituições do poder público, responsáveis por tomar medidas de prevenção, como, por exemplo, realizar as ações de monitoria”, afirmou Lana.

O mapa não contempla a totalidade das cidades brasileiras, e, sim, as 1.600 cartografadas até o momento. Assim, podem existir áreas sujeitas a desastres em localidades ainda não mapeadas pelo Serviço Geológico.

Leia mais:

Governo federal atua de forma integrada para mitigar efeitos de tragédia no litoral de SP

Relatório do governo de transição revela desmonte do estado brasileiro por Bolsonaro

Tragédia anunciada: Bolsonaro cortou quase toda verba para Defesa Civil e Combate a Prevenção de Desastres Naturais