Da ditadura à pandemia. Papo NINJA analisa o Brasil 57 anos após golpe militar
Debate ocorreu entre a filósofa Márcia Tiburi, a deputada federal Natália Bonavides e a diretora de cinema Beth Formaggini
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O que o Brasil da ditadura tem a ver com o Brasil da Covid-19? O último Papo NINJA desta quinta-feira (1) tinha como tema “Ditadura Nunca Mais”. Na data que marca os 57 anos do golpe de Estado que abriu as portas da ditadura militar no país, foi impossível não traçar relações com o Brasil de 2021, onde mais de 325 mil pessoas morreram pela Covid-19 e um governo ganha fama internacional com a qualidade de um genocida. Estiveram na conversa a filósofa Márcia Tiburi, a deputada federal Natália Bonavides e a diretora de cinema Beth Formaggini, com mediação de Felipe Altenfelder, da Mídia NINJA.
Durante o papo, Natália comentou sobre a ação popular que ingressou contra a União e o Ministério da Defesa para proibir a edição de qualquer publicação ou manifestação que exaltasse a ditadura militar. Natália ainda denunciou o presidente Bolsonaro à Corte e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos por celebrar o golpe militar como o uso da máquina pública.
“Vale lembrar que a ordem do dia do ano passado foi assinada pelo ministro da Defesa, com um posicionamento oficial das Forças Armadas. Eles disseram que a data era um marco para a democracia”, lembra Natália, trazendo à fala uma análise sobre a demissão de comandantes do Palácio do Planalto por supostas divergências com a instalação de um golpe de estado.
“São os mesmos negacionistas daquela época, que falam que não houve tortura ou denúncia e hoje são contra medidas restritivas contra a Covid porque dizem que não funciona. Os mesmos que têm o sangue nas mãos quando usaram o pau-de-arara, a cadeira do dragão e o afogamento são os que têm sangue nas mãos pela falta de oxigênio e de UTI”
Para Márcia Tiburi, todas as democracias que morreram e deram lugar à tirania passaram por processos profundos de “psicopoder”. “Nós nunca seremos como a direita porque eles fazem o uso indiscriminado da violência e quando chegam ao poder, administram nessa base. Esse governo faz e sempre fez violência”, disse. “O jeito com que o Brasil está vivendo a pandemia é efeito do golpe, é efeito da ditatura. As pessoas captam e saem reproduzindo quando elas não têm uma base, uma subjetividade democrática”.
A filósofa, que hoje atua com estudos sobre torturadores da ditadura, afirma que Bolsonaro capturou seus eleitores a partir do momento em que elogia Ustra e afirma que ele foi “o pavor da Dilma”. “A tortura sempre tem um caráter mental pq ela conduz o medo”, disse. Nesse aspecto, Bolsonaro seria uma personagem que conduz um psicopoder em sua representação no Planalto mas não passa de um “espantalho da plantação”, já que são os donos das oligarquias, sob a condução de Paulo Guedes, ministro da Economia, quem conduzem a política neoliberal brasileira de hoje em dia.
Para Beth Formaggini, Bolsonaro está a serviço de um capitalismo em colapso e que, portanto, precisa explorar cada vez mais. “Desde o golpe contra a Dilma, a gente viu vários movimentos de precarização do trabalho, perdemos direitos pelos quais muitas pessoas passaram 100, 200 anos lutando”, disse. “Entramos num ciclo de precarização da vida. Eu fui no Aterro do Flamengo e tinha uma pessoa morta na rua. Há uma intenção nisso. Existe uma vontade política de extermínio”.