“Sou preta. Realmente tem a história que a gente veio e viemos como escravos, sim. Por quê? Porque a gente era eficiente”, disse um dos participantes negros do BBB22

Foto: Divulgação

Na edição do ano passado o Big Brother trouxe, junto com a quantidade maior de participantes negros, discussões sobre os limites da militância, cancelamento e diferenças de pensamento entre indivíduos negros. Se Karol Conka, Lucas Penteado e Lumena Aleluia foram o foco dos debates de todo mundo que achou pertinente discutir as dinâmicas de relação entre pessoas pretas, nos primeiros dias da nova edição, a modelo Natália Deodato chamou a atenção com uma fala sobre a escravidão vivida pelos negros sequestrados na África. Por que é que a gente veio como escravo? Porque a gente era bom no que a gente fazia. Por isso, porque talvez se colocasse uma pessoa lá pra fazer aquilo, talvez não conseguiria”, disse Natália. 

Os debates que a declaração da modelo levantou, colocaram em evidência os argumentos daqueles que acham que está cansativo e injustificável ensinar o que seria o “básico” e aqueles que apontam que a falta de letramento racial é algo comum na população negra brasileira. 

A ausência de letramento racial entre pessoas pretas pode parecer um pouco chocante quando a gente já se acostumou a estar inserido numa bolha de militância e debate. Talvez a gente não queira olhar para trás e encarar a nós mesmos do passado quando apontamos o dedo para um negro que destila falas sem base em fatos históricos ou que faz análises distorcidas sobre as dinâmicas raciais no Brasil. Historicamente nosso país não ensina pensadores pretos nas escolas, endeusa uma pessoa branca como heroína antiescravagista e ostentou vozes e rostos brancos em todos os meios de comunicação. O mito da democracia racial se alastrou junto com esse sufocamento da nossa história e das nossas subjetividades. Só olhar para nossos jogadores de futebol, que ignoram o imenso poder e influência que tem em suas vozes e parecem viver flutuando sobre uma realidade bem mais dura do que as festas que frequentam. Podemos usar como referência o maior

jogador brasileiro da atualidade, Neymar Jr, que mesmo vítima de racismo mais de uma vez, evita ou não parece saber se posicionar sobre o tema de forma incisiva. 

Ao mesmo tempo, não é tão incompreensível a baixa tolerância com pessoas pretas servindo como tokens para pessoas brancas continuarem a espalhar absurdos sobre nós. Cada preto que endossa o discurso da branquitude sobre as mazelas de escravidão, enfraquece e serve de desserviço à uma causa que dá poucos passos a frente e que exige uma energia muito grande para pesquisa e educação. Então é desanimador ver alguém que ganha a vida na internet espalhar desinformação. A primeira reação é: “Essa pessoa teve acesso, mas por qual razão não pesquisa?” Acontece que fora de nossas pequenas bolhas de seguidores e militância, poucos brasileiros se aprofundam em discussões sobre pautas raciais e talvez até você, lendo esse texto, esteja aprendendo algumas coisas só agora. 

Esse texto não é um martelo de juiz, é uma provocação. Mais uma vez, o BBB coloca os negros em posição de enfrentamento, mas podemos usar isso para cancelar mais uma pessoa preta ou para crescer.

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