Lésbicas na história
29 de Agosto é o Dia da Visibilidade Lésbica, data com múltiplos significados. Hoje Ana Claudino conversa com a Larissa Andrade, criadora do perfil Lésbicas na História, para saber um pouco sobre a história Lésbica Brasileira.
29 de Agosto é o Dia da Visibilidade Lésbica, é uma data com múltiplos significados, como já falei aqui em um texto anterior. Por isso, para a coluna de hoje, conversei com a Larissa Andrade, criadora do perfil Lésbicas na História, para saber um pouco sobre a história Lésbica Brasileira.
Ana Claudino: Quem é Larissa Andrade?
Larissa Andrade: Eu sou Larissa, sapatão não branca, caminhoneira, moro em Japeri, na baixada fluminense/RJ. Pesquiso história lésbica mundial de forma independente, faço parte da Rede Latinoamericana AMAI LGBTQIA+ e tenho um projeto voltado para o resgate de memória lésbica, o Lésbicas na História.
Ana Claudino: O que te motivou a começar o seu projeto “Lésbicas Na História”?
Larissa Andrade: O Lésbicas na História é fruto do incomodo. Quando eu me entendi enquanto mulher lésbica e aceitei a minha sexualidade, me questionava “Ok, mas quem sou eu? Qual é a minha história?”. Até então, eu não conhecia nenhuma história de mulheres lésbicas, a primeira vez que eu tinha tido contato com uma lésbica que era assumida, falava sobre isso naturalmente e vivia publicamente enquanto uma mulher lésbica foi em 2013. 7 anos atrás. Muito pouco tempo. Isso tudo ficava martelando na minha cabeça. Então teve um episódio que foi o canalizador. Minha ex namorada estava pesquisando sobre imprensa lésbica pro TCC e eu resolvi dar uma pesquisada pra ver se achava algo que pudesse ajudar e me bati com a história de Virginia Sofia Quaresma Guerra, a primeira mulher a se tornar jornalista em Portugal (e também a primeira história contada no LNH!!! hahahaha). Uma sapatão. E eu fiquei maravilhada com isso! Ficava imaginando uma sapatão adolescente, que pensa em seguir carreira na área, lendo que houve um pioneirismo de uma lésbica também, sabe? Então eu senti essa ardência no peito para criar o Lésbicas na História e me dedicar ao resgate de memória lésbica do passado e registro da memória lésbica em construção contemporânea.
Ana Claudino: Por que existe o epistemicídio da história lésbica?
Larissa Andrade: Eu acredito que o apagamento lésbico na história faz parte da estrutura de controle social heteropatriarcal. Se você delega um grupo transgressor à margem da sociedade, você apaga sua história. Se não há história, não há cultura, você enfraquece o movimento e o torna invisível. Se é invisivel, você pode dizer que não existe, que é algo “recente”. Então pra que pensar políticas públicas para saúde sexual de mulheres lésbicas, pensar dupla-maternidade, especificar o lesbocídio e o lesboódio no código penal? Uma coisa tá ligada a outra, e conhecer a sua história, conhecer as que vieram antes, é se fortalecer enquanto movimento.
Ana Claudino: Pode falar um pouco sobre o GALF e a revista ChanacomChana? E por que dia 29 de agosto é o dia da visibilidade lésbica?
Larissa Andrade: O GALF, Grupo de Ações Lésbicas Feminista foi o primeiro grupo lésbico de ação contínua que se tem registro no país. O grupo surgiu em plena ditadura militar, após um racho do SOMOS. O GALF fazia panfletagens contra lesbofobia, divulgação de atividades do coletivo, e também lutou no combate e resistência a ditadura militar no país, lutando contra prisões arbitrárias e extorsão. Além disso, o GALF fazia a venda do seu boletim chanacomchana, um dos primeiros periódicos do gênero que se tem registro no país.O dia da Visibilidade Lésbica foi a data escolhida durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas – Senale, que ocorreu em 29 de agosto de 1996, no Rio de Janeiro. O SENALE também definiu agosto como o mês de luta e resistência lésbica.
Daqui, iremos seguir lutando pelos direitos de existência sapatão! Nossas ancestrais começaram esse caminho e nós vamos seguir por ele também. Viva a história e a visibilidade sapatão! Para conhecer mais sobre Lésbicas Na História, sigam o Instagram @lesbicasnahistoria e conheçam esse trabalho fundamental que a Larissa produz. Até a próxima