Texto e foto por Lucas Gobatti

Foto: Lucas Gobatti

No dia do trabalho, hoje foi dia de acordar com um estrondo.

De acordar com helicóptero sobrevoando nossa casa, porque o prédio ao lado tinha caído em chamas.
Dia de vizinho dizer que de madrugada o ar tava mais denso de poeira e não sabia o porquê.

É porque um prédio ocupado desabou. Logo ao lado. E cuidado com as palavras! É ocupado que se diz e não invadido. Isso porque é direito inalienável ter um teto pra viver.

E porque ocupam, se é tudo tão insalubre? Vou explicar pra vocês em tópicos. Acompanha:

— O centro de São Paulo é onde existe muita oportunidade de trabalho e pouca oportunidade de moradia. Pouca moradia por causa do capital: pouca gente tem muitas posses. Pouca gente é detentora de muito imóvel, porque sabe que mais pra frente os preços vão subir e vão poder vender mais caro. E fazer dinheiro. Isso é a especulação imobiliária.

— De forma oposta, as periferias têm pouca oportunidade de trabalho e a moradia é barata. Isso porque chegou pouca infraestrutura, e o preço que a gente paga numa casa não é só pela casa, mas pelo contexto urbano que ela tá inserida.

— Morar, por exemplo, na Zona Leste, que tem 3,5 milhões de pessoas, é quase toda essa gente se deslocando para áreas centrais pra trabalhar. O Uruguai tem 3,5 milhões. É quase um Uruguai vindo todos os dias pro centro e enfrentando às vezes 2h pra ir e 2h pra voltar. De tempo de jornada em transporte não remunerado. 4h do dia doadas a trabalho, indo trabalhar, sem ganhar por isso.

— Aluguel de cortiço, pra morar de maneira insalubre, bate os R$800 ao mês facilmente na Santa Ifigênia. Aqui do lado. Fomos lá pessoalmente perguntar pra quem paga e esse é o preço. Lembrando que o salário mínimo é de  R$954.

— Qual a opção? Ocupar, de maneira legítima, os espaços dotados de um contexto com infraestrutura e emprego. E, sim, pra sustentar a família, às vezes ter que morar com essa mesma família num prédio que pode cair, que não tem condições sanitárias ou segurança. Mas morar. Ocupar um espaço, exercer um direito legítimo e primordial humano. Existir.

E tudo isso é fruto de necessidade. Criada pelo grande capital, pelas especulações e pela falta de políticas públicas de moradia.

Nesse dia do trabalho, que ele seja Dia do Trabalhador.

Que nossa sociedade entenda pelos seus erros que o protótipo de desenvolvimento que seguimos é colonizador. É uma mera manutenção da estrutura trabalhista de quem quer competir pelo progresso. E não chegar nos níveis de bem estar que contemplem a todxs.

Não vamos deixar limparem com fogo.