A escalada dos preços dos alimentos no Brasil tem impacto direto na vida da classe trabalhadora, que vê seu poder de compra reduzido enquanto a fome e a insegurança alimentar se agravam. Esse problema não é fruto do acaso, mas sim de um modelo agrícola dominado pelo agronegócio e pelo mercado financeiro, que prioriza a exportação de commodities e a especulação em detrimento da produção de alimentos para a população. A única forma de reverter essa realidade é por meio da Soberania Alimentar, garantindo que a produção e o abastecimento de alimentos estejam sob o controle dos camponeses, das comunidades e do Estado, e não das grandes corporações.

A soberania alimentar é um conceito que vai além da simples segurança alimentar. Enquanto esta última se preocupa com a disponibilidade de alimentos, a soberania alimentar exige o direito dos povos de decidir sobre seus sistemas de produção, priorizando uma agricultura baseada na agroecologia, na produção de alimentos e no respeito ao meio ambiente.

No Brasil, a dependência da produção do agronegócio e a falta de políticas estruturantes para a agricultura camponesa fazem com que os preços dos alimentos sejam ditados por grandes empresas e pelo mercado externo. Isso cria um cenário de especulação, prejudicando diretamente a população.

O atual modelo agrícola brasileiro é voltado para o lucro de uma minoria. O país tem terras férteis, tecnologia e condições climáticas específicas, mas grande parte do que é produzido não é destinado à alimentação da população. Soja, milho, cana e carne são exportados em grande escala, enquanto mandioca, batata, arroz, feijão, trigo, frutas, legumes e verduras – base da alimentação brasileira – trazem poucos incentivos e chegam caros ao consumidor. Além disso, os alimentos passam por longas cadeias de distribuição, encarecendo ainda mais os produtos.

A soberania alimentar apresenta soluções concretas para esse problema. O fortalecimento da agricultura camponesa e agroecológica permite a produção diversificada e acessível, garantindo renda para os pequenos agricultores e comida barata para o povo. Além disso, a integração de circuitos de comercialização, como feiras agroecológicas, cooperativas e compras institucionais para escolas e hospitais, reduz a dependência das grandes redes de supermercados e barateia os preços.

Outra questão central é a dependência de insumos importados, como fertilizantes químicos e agrotóxicos, que encarecem a produção agrícola e aumentam a vulnerabilidade do país às oscilações do mercado internacional. A transição para uma agricultura menos dependente desses insumos, baseada em técnicas agroecológicas, pode reduzir custos e tornar uma produção mais sustentável.

Além disso, políticas públicas estruturantes, como a reforma agrária, o fortalecimento da assistência técnica para camponeses, o crédito desbancarizado para a produção agroecológica e o estímulo ao cooperativismo, são fundamentais para consolidar a soberania alimentar no Brasil. Sem essas mudanças, a população continuará refletindo um modelo que prioriza a exportação e a especulação, em vez de garantir comida barata e saudável para todos.

O debate sobre a alta dos preços dos alimentos não pode se limitar a medidas paliativas, como subsídios temporários ou redução de impostos sobre certos produtos. É preciso uma transformação profunda no sistema agroalimentar, colocando o direito à alimentação acima do lucro de pequeno porte. Só com soberania alimentar será possível garantir comida acessível, saudável e de qualidade para toda a população brasileira.