Quem mandou o vizinho do presidente da República matar Marielle?
O fato do assassino de Marielle ser vizinho do Presidente da República combinado com todas essas circunstâncias já mereceria uma forte investigação.
Dois dias antes do assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes completar um ano, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro apresentaram ao país e ao mundo o autor dos 13 disparos de arma de fogo. A pergunta continua: Quem mandou matar Marielle?
Uma circunstância do crime, por si só relevante, é que o autor dos 13 disparos que mataram Marielle e Anderson mora no mesmo condomínio do Presidente da República. O fato de ambos serem vizinhos deveria, no mínimo, gerar grande preocupação ao Presidente, que sofreu há poucos meses um atentado a facada contra sua vida. Se alguém que executou pelas costas, com tiros nas costas, uma Vereadora da cidade e vive ao lado do Presidente da República, também poderia fazer o mesmo com ele, que, estranhamente, fez pouco caso desse fato.
Muitos disseram que o fato do autor imediato do crime morar ao lado de uma pessoa não quer dizer que exista qualquer ligação entre os dois. Concordo, mas não é o que estamos afirmando nem é esse o caso, pois estamos entrando na fase processual. O crime está comprovado, a materialidade existe, que são os corpos de Marielle e de Anderson. Em relação à autoria, há fortes indícios de que foi praticada pelo ex-policial Ronnie Lessa. Depois das provas serem submetidas ao contraditório judicial, o Juiz pode assentar o espírito sobre a certeza da autoria imediata, alcançando a convicção judicial para condenar o denunciado. Mas todos sabem que o autor executou uma ordem e isso faz parte da investigação. Várias linhas já foram, estão sendo e serão investigadas.
Uma das linhas de investigação deve ser o Presidente da República, que fez do símbolo da sua campanha uma arma com as próprias mãos. O mundo sabe que o Presidente do Brasil destila ódio contra os Direitos Humanos, é homofóbico, defende a tortura, a violência policial, a sanguinária ditadura militar e ataca as feministas. Tudo que Marielle era, representava e representa. Por isso foi assassinada. Mulher, negra, favelada, lésbica, feminista e uma sensacional parlamentar, com grande votação e que tinha o dom da oratória. O fato do assassino de Marielle ser vizinho do Presidente da República combinado com todas essas circunstâncias já mereceria uma forte investigação.
Mas ainda tem mais: as evidentes relações do Presidente da República e de seus filhos políticos com a milícia e o escritório do crime são indícios de liame subjetivo que precisam ser pesados nessa linha de investigação, que busca saber quem foi o mandante deste covarde feminicídio, mediante emboscada e pagamento, com tiros nas costas e pelas costas, de forma que impossibilitou qualquer defesa da vítima.
Outro estranhamento levantado por essa descoberta da polícia e do Ministério Público é como ninguém sabia que o autor de um homicídio de repercussão mundial morava naquele condomínio, para onde estavam voltadas todas as atenções do país, com a presença da mídia nacional e mundial, órgãos de informação, polícias Federal e Estadual e seguranças? Justamente no local em que foi realizada toda a campanha do Presidente eleito do Brasil! Não existiu qualquer levantamento da vizinhança durante a campanha, ao menos dos órgãos de informação, que atuam de forma secreta? Ninguém sabia disso nem sequer informou ao Presidente da República?
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ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
Rio de Janeiro, 22 de marça de 2019