Moda como resistência cultural
A São Paulo Fashion Week [me] surpreendeu e deu um gostinho dessa força multitarefa espontânea que é a moda real gerada pelas ruas.
A-mo a vibe do Midia Ninja. E to aqui pra satisfazer o desejo gigante de compartilhar meu olhar sobre o mundo da moda, – que pra mim é cultura -, e trocar ideias com pessoas que sabem que os seus modos de pensar, fazer, sentir e mostrar são o que importam, porque estilo é tudo nessa vida.
Minhas andanças não são poucas, e com o olhar desenvolvido entre o pensamento de design, o consumidor contemporâneo e a solução de problemas socioambientais, ando por todos os cantos falando de Economia colaborativa, Economia criativa, Economia sustentável…
O termo sustentabilidade já ficou banal com o seu uso equivocado, mas essa força coletiva ninguém segura, porque propõe modelos de negócios que geram desenvolvimento, e proporcionam a seus envolvidos experimentações com processos ultramodernos de relações ganha-ganha.
Viver/produzir de forma sustentável evoluiu e ganhou outros nomes, como moda responsável, moda compartilhada, moda pro novo mundo, moda viva… e a versão mais sensacional: moda circular. E sim, é o formato do futuro.
Mas como colocar em prática esses novos modelos pensados? Como escolher melhor? Como produzir a nova moda? Como ser fashion ganhando pouco? Como construir um guarda-roupa funcional? Como comunicar criações com conceito sustentável? Como ser ético e ao mesmo tempo comercial? Eu conto: praticando os modos da moda que inspira, que transforma, que empodera, que inclui, que questiona, e liberta.
A SPFW, considerada umas das semanas de moda mais importantes do mundo, que acabou de acontecer no prédio da Bienal em São Paulo, [me] surpreendeu e deu um gostinho dessa força multitarefa espontânea que é a moda real gerada pelas ruas, que direciona mercados; a moda verdadeira, que dita tendências seguidas pelos seus “caçadores”.
Veja bem: o nosso Brasil é um país de negros, mas tem marca de moda que ainda acha que pode apresentar uma coleção inspirada na África com a grande maioria do casting branco, e alegar que não encontra modelos negros. Quem perde? A marca, com toda certeza, porque o mundo que interessa se apropriou dessa palavra linda – diversidade!
Bacanérrimo foi ver lançamentos de coleções mostradas como performances; um foi até comunicado, literalmente, de apresentação. É a tal da leveza tomando seu espaço, destruindo valores simbólicos equivocados.
O que o evento mostrou foi moda inclusiva “na veia”. O genial Ronaldo Fraga convidou velhos, gordos, tatuados, com pernas biônicas, entre outras pessoas comuns, para desfilar sua coleção ao som de uma orquestra com perfil vintage. A coleção da LAB, do Emicida e Fióti, falou lindamente de liberdade com tamanhos que vão até o 58, ao som de rap. Teve as tradicionais/sensacionais criações sem gênero da coleção masculina do João Pimenta. A Jahnkoy, marca de uma artista russa, foi convidada especial e mostrou sua coleção conceitual fundamentada em sustentabilidade, e protestou contra fast fashion com a participação de capoeiristas. O evento foi encerrado com uma performance da marca Cemfreio, que finalizou sua coleção fundamentada em raízes e autoconhecimento durante a semana, com a colaboração de “não-estilistas”, que desfilaram suas próprias peças, ao som de tambores. O slogan da ação foi “toda beleza pode ser”.
Alexandre Herchcovitch, o grande nome da moda nacional, desfilou a coleção da sua marca À la garçonne no Teatro Municipal de São Paulo ao som de funk, com propostas sustentáveis, casting com estéticas variadas, cabelos coloridos, parcerias. Outras marcas também passearam pela sempre boa mistureba moda+arte+cultura popular. E qual a importância disso? Muita! Isso tudo mostrou reformulação de linguagens, de abordagens. Apontou oficialmente caminhos acessíveis.
Em seu Manifesto Antropófago, Oswald de Andrade diz: “… Contra o mundo reversível e as ideias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores…”. Inspirada por Oswald digo mais: busquemos o [re]nascimento da lógica entre nós. Potencializemos o nosso DNA, para que o nosso poder criativo seja amplamente reconhecido. Nos empoderemos da nossa cultura. Tenhamos orgulho de nós mesmos. Sejamos donos da nossa história. Essa história que escrevemos com nossas próprias mãos, e nossos corações.
A partir de agora eu e você vamos nos encontrar por aqui. E pra começo de conversa, vamos deixar claro que tendência é ser feliz; tamanho certo de roupa é o que te veste incrível; formato ideal de corpo é o seu, que é único; bom gosto é o que mostra o sua identidade; regras estéticas é você que define, segundo sua preferência. E ponto.
Pronto. Bora que o futuro já é, e quem manda no destino é o nosso querer. Ser livre “tá na moda”. Somos a vida, o sonho, e tamo junto.