De novo a barbárie
Interromperam duas vidas e destruíram a vida das suas famílias para um “confronto” mequetrefe com traficantes e apreensão de umas poucas armas.
“Neném, já me sinto pronta pra te receber, te amar, cuidar!!! Deus nos abençoe! Minha benção tem nome: Maya ou Zayon”, Kathlen Romeu
De novo a barbárie! Kathlen Romeu, uma jovem negra, de 24 anos, grávida e seu bebê foram mortos por causa de uma ação policial em Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio de Janeiro.
Interromperam duas vidas e destruíram a vida das suas famílias para um “confronto” mequetrefe com traficantes e apreensão de umas poucas armas.
Uma operação que não vai mudar nada no tráfico ou consumo de drogas, apenas reafirma o horror e a barbárie no nosso cotidiano e produz revolta.
Matam inocentes, violam direitos em nome de “confrontos” inúteis e uma política que enxuga gelo.
Matam a população, matam policiais quando o tráfico e o consumo de drogas não acabaram e nem vão acabar em país nenhum do mundo, a não ser com legalização ou regulação.
O problema não é nem o consumo de drogas e nem o tráfico, é a politica de Estado que elegeu a violência e a morte da população como padrão nessas operações.
1. Não é bala perdida, não é acaso, é o procedimento policial nas favelas que mata mulheres grávidas e crianças e o racismo nessas operações que matam prioritariamente jovens negros.
2. Não é guerra as drogas quando decidem que a vida da população das favelas, a vida de jovens negros e negras, vale MENOS e pode ser sacrificada. É uma guerra contra cidadãos.
3. Em que países o consumo de drogas (uma decisão individual e no máximo um problema de saúde pública a ser tratado) é combatido com uma guerra contra a população, que mata inocentes?
4. A política de proibição das drogas e a “guerra as drogas” já fracassaram no mundo todo e se mostrou ineficaz. O consumo de maconha, por exemplo, foi legalizado em vários países, como o Uruguai e em diferentes estados nos EUA, as drogas são totalmente acessíveis sem banhos de sangue.
5. Não são as drogas que matam no Brasil, para isso tem prevenção e educação, tratamento, são sua proibição irracional e a “guerra” contra drogas. Quem mata hoje é o Estado.
6. A proibição das drogas não gera lucros para o pequeno varejista, mas para os grandes empresários de drogas e para o sistema financeiro. A ilegalidade gera mais crime, violência, ilegalidades e mortes.
7. Existe plano, existem estudos, existe tecnologia e inteligência para reduzir a letalidade policial no Estado do Rio e no Brasil e para controlar violações de direitos humanos pelas forças de segurança, deter a morte de pessoas pelo Estado.
8. Mas parte das notícias e parte da sociedade não fala em deter a morte produzida pelo Estado, continuam falando de mortos por “bala perdida” e por “confronto de policias e traficantes”, enquanto matam Kathlen Romeu e seu bebê, cometem genocídio no Jacarezinho e destroem famílias inteiras e nos matam como sociedade.
9. Ah, mas e os traficantes? Nós não esperamos nada dos traficantes, mas deveríamos esperar que a polícia não se comportasse como o tráfico, apostando na morte e na barbárie.
10. Diante da tragédia da violência policial, existe uma segunda ainda mais tenebrosa: armar a população, para que ela se mate entre si! A polícia e a população não podem comprar a barbárie e a promessa estúpida de uma guerra civil como projeto de país.