Daniel Zen: 48 dias de governo Bolsonaro
O buraco da corrupção é bem mais embaixo. Ou melhor: mais acima.
Fabrício José Carlos de Queiroz, o famoso Queiroz, administrava o misto de laranjal com lavanderia do gabinete do então deputado estadual e hoje Senador da República, Flávio Bolsonaro (PSL), na Alerj.
Em apenas três anos, ele teria movimentado a quantia de R$ 7 milhões em uma conta em seu nome.
Saques e depósitos frequentes, de assessores parlamentares de Flávio, para Queiroz – incluindo sua esposa, duas filhas, a ex-mulher, o esposo da ex-mulher e mais 3 outros colegas – que coincidiam com as datas de pagamento na Alerj, sugerem a prática de “mensalinho” ou “raxadinha”, que é a coleta de parte do salário dos assessores para o parlamentar, por intermédio de uma “conta de passagem”, no caso, em nome do próprio Queiroz.
O esquema envolve, diretamente, o Presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) e a Primeira-Dama, Michelle Bolsonaro, pois ambos teriam recebido cheques de Queiroz, além de ter havido nomeações cruzadas entre os Gabinetes de Jair e Flávio – justo uma das filhas do Queiroz. O Presidente alega tratar-se de pagamento de empréstimos, feitos por ele a Queiroz, seu amigo pessoal.
Queiroz tem comprovado envolvimento com milicianos de Rio das Pedras-RJ, berço das milícias cariocas, a ponto de Flávio Bolsonaro empregar a mãe (Raimunda Veras Magalhães) e a esposa (Danielle da Nóbrega) de Adriano da Nóbrega, chefe do “Escritório do Crime” em seu gabinete parlamentar, a pedido de Queiroz.
Milicianos do tal “Escritório do Crime”, de Rio das Pedras-RJ, figuram entre os principais suspeitos do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson. Esses mesmos milicianos foram homenageados, reiteradas vezes, por Flávio Bolsonaro.
Em meio a tais suspeitas, vem à tona a notícia de que Marcelo Álvaro Antonio (PSL), Ministro do Turismo do Governo Bolsonaro, criou candidatas laranjas, em Minas Gerais, para desviar recursos do Fundo Eleitoral nas Eleições 2018. Segundo revelou a imprensa, teriam sido desviados, nesse esquema, mais de R$ 250 mil.
Dias depois, outra candidata laranja surge em Pernambuco: Maria de Lourdes Paixão, Secretária Executiva do PSL no estado, teria recebido R$ 400 mil e apenas 273 votos. As verbas foram liberadas por Gustavo Bebianno, então Presidente do PSL e atual Secretário-Geral da Presidência da República.
Tentando se desvencilhar do escândalo do laranjal do PSL, o filho do Presidente, vereador Carlos Bolsonaro (PSL), chama Bebianno de mentiroso. O Presidente, em pessoa, teria reiterado tal posição, tanto pelas redes sociais quanto pela televisão.
A postura de “fritura” da Famiglia perante um aliado de dentro da própria cozinha amedrontou os demais aliados e gerou uma mobilização pró-Bebianno.
Em reunião tensa, recheada de bate-boca, foi oferecido um cala-a-boca ao Ministro: a diretoria da estatal de Itaipu e a garantia de que Moro não mexeria com ele. Bebianno negou e, nas redes sociais, ameaça o Presidente: a se confirmar sua exoneração, na segunda-feira, 18/02, o “Brasil vai tremer”. Tremei, Brasil! Tremei…
P.S.: Isso tudo acontecendo e a gente tendo que se preocupar com a profusão diária de asneiras da Damares Alves, Ernesto Araújo, Vélez Rodríguez e Ricardo Salles… O buraco da corrupção é bem mais embaixo. Ou melhor: mais acima. E nem falamos do Caixa 2 do Onyx porque, esse, o Moro já perdoou…