PM atira em homem dentro de igreja evangélica após discussão política
Discussões entre os fiéis teriam começado há cerca de um mês, depois que a vítima e um irmão passaram a se posicionar contra falas políticas do líder da igreja
A trinta dias para as eleições, a escalada da violência política no Brasil tem se intensificado e assusta. Depois de casos como o assassinato do petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu e, mais recentemente, o atropelamento de um manifestante em São Paulo pelo candidato à deputado federal Ricardo Salles, além de inúneras agressões verbais e ataques fascistas, um novo caso veio à tona.
Desta vez, a violência aconteceu dentro da igreja Congregação Cristã no Brasil (CCB), em Goiânia. Na quarta-feira (31), um homem de 40 anos foi baleado por um policial militar dentro da igreja evangélica após uma confusão que teria sido provocada por divergências políticas. O autor do disparo foi um cabo da Polícia Militar de Goiás (PMGO), que também frequenta o local, identificado como Vitor da Silva Lopes, 37.
Segundo parentes da vítima, Davi Augusto de Souza, as discussões entre os fiéis teriam começado há cerca de um mês, depois que a vítima e um irmão passaram a se posicionar contra as falas políticas do líder da igreja. O pastor começou a pedir para que os integrantes da Congregação não votem em partidos “vermelhos” e passou a indicar em quem os fiéis deveriam votar.
A vítima e irmão, o bacharel em Direito Daniel Augusto, de 45 anos, chegaram a questionar o pastor durante os cultos. Em uma das celebrações, Daniel levantou a mão e pediu que o pastor parasse de falar sobre política e falasse mais sobre Jesus. Nesse momento, o pastor teria retrucado e o chamado de “demônio” e “rebelde”.
No registro da PM, não há menção à questão política. É dito, somente, que a vítima e o irmão teriam entrado em luta corporal com o policial e que o cabo, para se desvencilhar de um deles, pegou a arma e efetuou o disparo.
O irmão de Davi, que estava no local, apresentou uma versão diferente para a reportagem do Metrópoles. De acordo com ele, o cabo é quem teria iniciado a discussão, dando socos nele e no irmão. Em seguida, o policial sacou a arma e teria tentado atirar mais de uma vez contra Davi. O revólver, no entanto, teria falhado na maioria das tentativas.
Davi foi atingido por um tiro na perna. O caso aconteceu à noite, durante o culto evangélico. De início, houve tumulto e desespero, a celebração foi paralisada, mas logo em seguida o culto foi retomado e continuou, como se nada tivesse acontecido.
Uma equipe da Polícia Militar esteve no local e fez o registro da ocorrência. Socorristas do Corpo de Bombeiros foram acionados e levaram Davi para o hospital. Diante das divergências entre uma versão e outra, a PMGO informou que instaurou um procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do ocorrido.
Violência política
Para o presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos, o advogado Ariel de Castro Alves, o aumento da violência no país nos últimos dias é resultado da política de Jair Bolsonaro (PL) que armou intencionalmente seus apoiadores aposta em uma guerra civil nos meios rurais e urbanos.
“A violência deve se intensificar na medida que a derrota do Bolsonarismo nas eleições se aproxima”, informou o especialista em políticas de direitos humanos e segurança pública.
Ariel alerta que, diante do crescente armamento da população, além da violência política, os setores mais vulneráveis da sociedade, como mulheres, crianças e idosos ficam mais expostos à violência doméstica com uso de armas de fogo e também expostas aos acidentes pela utilização e manutenção inadequada de armas.
O gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, lembrou que os atentados contra a ex-presidente Cristina Kirchner e o diretório do PSDB em São Paulo, ambos nesta quinta-feira (1º), são alertas importantes de como liberação de armas descontrolada para pessoas sem capacidade aliada ao discurso político violento podem estimular tragédias. O Instituto Sou da Paz fará uma reunião para avaliar o aumento da violência no país nesta sexta-feira (2) e cobrar medidas.
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