Em comum, a suspeita é que os ataques foram direcionados por grupos neonazistas contra estas mulheres que atuam na política com forte atuação social em defesa da democracia, direitos humanos e contra toda forma de opressão e preconceito

“O nosso recado para eles é de que todas as ameaças estão sendo investigadas”. Foto: Divulgação

Por Mauro Utida

Conforme se aproximam as eleições, ataques contra candidatos políticos tem se intensificado, principalmente contra mulheres que ocupam cargos na política. Nos últimos três dias, Manuela d’Ávila (PC do B), a líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Sâmia Bomfim (SP) e a vereadora e pré-candidata a deputada federal, Duda Salabert (PDT-MG), foram ameaçadas de morte, incluindo, suas famílias.

Em comum, a suspeita é que os ataques foram direcionados por grupos neonazistas contra estas mulheres que atuam na política com forte atuação social em defesa da democracia, direitos humanos e contra toda forma de opressão e preconceito.

Aliás, estes inúmeros ataques fez com que Manuela D’Ávila desistisse de concorrer ao Senado em aliança partidaria no Rio Grande do Sul. Ela tomou a decisão para preservar a vida pessoal e profissional de ataques dos quais foi alvo nas últimas 3 eleições. A última ameaça estarrecedora que ela recebeu, ela expôs em seu perfil no Instagram na última segunda-feira (1º). O autor diz que irá estuprá-la, deseja a morte da filha, Laura, de 6 anos, e da mãe, Ana Lúcia Pinto Vieira.

“Ser uma mulher pública no Brasil é ser amaçada permanente. É escolher um lugar para o medo, outro para a coragem, outro lugar pro fingir ignorar. Ser mulher pública é conviver com a ameaça de estupro como correção pela coragem, com a ameaça de morte como silenciador”, escreveu Manu.

Na mensagem, o autor ainda diz ainda que vai “esquartejar o Lula”, além de destilar ódio com palavas de baixo calão. “Essa é mais uma das ameaças que eu, minha filha e também minha mãe sofremos”, declarou Manu.

 

Ameaças neonazistas

As ameaças dirigidas para Sâmia Bomfim e Duda Salabert foram enviadas por grupos neonazistas, conforme informado pelas parlamentares.

Sâmia registrou um boletim de ocorrência, nesta terça-feira (3), após receber uma ameaça de estupro e de morte por email. Um inquérito foi aberto e o caso será investigado pela divisão de crimes cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo.

No texto enviado por email, o agressor chama a parlamentar de “vagabunda” e “parasita”, faz menções ao seu peso e ameaça estuprá-la e assassiná-la na frente de seu filho.

“Acha que vai continuar exercendo este cargo de deputada federal até 2023? Nana-nina-não [sic], sua vadia. Vamos te amarrar e te estuprar na frente do seu filho Hugo e do Glauber”, diz a ameaça, segundo mensagem compartilhada com a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, pela equipe da deputada.

Sâmia cobrou uma investigação minuciosa por parte das autoridades policiais e afirmou que a sociedade brasileira não deve naturalizar agressões “tão perversas, misóginas e nazistas” como essas. “O nosso recado para eles é de que todas as ameaças estão sendo investigadas, e os responsáveis serão punidos. Por mais que tentem nos calar e nos intimidar, nós não arredaremos o pé da política”, diz a deputada federal.

Covardes

Duda, que é a vereadora mais votada da história de Belo Horizonte e a primeira mulher trans a ser eleita na cidade, registrou o boletim de ocorrência, na segunda-feira (1°), e denunciou o conteúdo recebido por e-mail com ameaças contra ela e a família, que expressam diversas formas de violência. Em depoimento, Duda disse que a ameaça foi enviada por um “frequentador de ambientes virtuais neonazistas”.

Duda publicou o conteúdo do e-mail em suas redes sociais. Perder seu emprego foi só o começo, na próxima vez você vai perder a sua vida. De SP para Minas Gerais, é só um passo”, escreveu o agressor. No ano passado, ela perdeu o emprego na escola onde trabalhava porque a instituição também recebeu ameaças, contou ela.

Após a repercussão do crime, o prefeito de BH, Fuad Noman, colocou o efetivo da Guarda Municipal à disposição para reforço na proteção da parlamentar.

“É terrível, porque foi uma ameaça não só contra mim, mas também contra minha família. Quando as ameaças ficam só na minha pessoa, a gente já tem uma experiência minimamente afetiva para lidar. Mas, quando envolve minha esposa e minha filha, minha família, isso assume um contorno psicológico e afetivo muito pior”, disse Duda, que á foi vítima de ameaça de morte em 2020.

 

 

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Combate à violência política de gênero

Dados do Observatório de Violência Política Contra a Mulher apontam que 44% das candidatas a cargos eletivos nas Eleições Municipais de 2020 foram vítimas de atos violentos. Com estes números altíssimos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) formalizaram, nesta segunda-feira (1º), um acordo que estabelece diretrizes para atuação conjunta no enfrentamento da violência política de gênero.

O protocolo assinado confere especial importância às declarações da vítima e aos elementos indicativos do crime eleitoral. O acordo também determina que qualquer pessoa que tenha conhecimento da existência da prática contra a mulher deve, verbalmente ou por escrito, comunicar a ocorrência ao Ministério Público Eleitoral (MP Eleitoral), ao juiz ou a juíza eleitoral e/ou à autoridade policial.

No Brasil, a Lei nº 14.192/2021 foi o marco legislativo que acrescentou ao Código Eleitoral o crime de violência política de gênero e estabeleceu normas para prevenir, reprimir e combater o ato.

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