Foto: Cícero Pedrosa Neto / Amazônia Real

Segundo a contagem oficial da prefeitura, até esta quarta-feira (29/04), Belém, com 1,4 milhão de habitantes, confirmou 2.586 casos de contaminação por covid-19 e 156 mortes. Mais de 325 testes aguardam resultado.

 

O sistema de saúde de Belém já entrou em colapso. Profissionais do serviço público de saúde denunciam a escassez de exames e afirmaram que apenas pacientes internados em estado grave estão sendo testados.

Em 15 de abril trabalhadores do Pronto-Socorro Mário Pinotti fecharam a unidade de saúde que atende pessoas de todo o estado e é a maior referência da cidade integrada ao SUS para protestar por falta de equipamentos de proteção individual (EPIs). No dia 24 de março, um médico da unidade já havia relatado ao Brasil de Fato que o local não tinha EPIs e itens básicos de higiene como sabão para lavar as mãos.

Segundo o Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa), 42% dos contaminados de Covid-19 na cidade são profissionais da saúde. A médica Dr. Helena do Rosário Vieira faleceu nesta quarta-feira, 29. Esta é a 8ª morte entre médicos no estado.

Sistema colapsado

O prefeito Zenaldo Coutinho anunciou que todos os hospitais públicos e privados de Belém estão saturados e não há mais vagas para atender os infectados. A capital é o epicentro da doença no Pará é concentra 60% das mortes por Covid-19.

O informe da Secretaria Municipal de Saúde (Saúde) no dia 28 de abril aponta que os apenas 125 leitos de UTI da cidade já estavam 100% ocupados na semana passada; 80% com pacientes de Covid-19.

Hospital de Campanha em Belém registra ocupação de mais de 120 leitos e já conta com médicos cubanos. Foto: Jader Paes / Ag.Para

IML – Além da falta de leitos em UTI, Belém vive outro drama: a remoção de corpos para o IML (Instituto Médico Legal). No dia 19 de abril Angelo Madson, jornalista e sociólogo fundador da Rádio Comunitária Idade Mídia e indígena Tupinambá, denunciou o colapso no IML e a demora de 12 horas para que o corpo do seu sogro vítima de coronavírus, Yvens Rodrigues da Costa, 69, fosse removido de sua casa. Angelo permaneceu na casa com o corpo até que fosse removido e também contraiu a doença.

CEMITÉRIOS – Nos três cemitérios municipais, a movimentação também indica um cenário grave. Segundo a investigação da Defensoria Pública, o Serviço de Verificação de Óbito, acionado apenas em casos de mortes não violentas, foi chamado para recolher 65 corpos de prováveis vítimas da covid-19 apenas no último domingo. Antes da pandemia, a média diária era de sete chamadas. Em cidades da região metropolitana, como Ananindeua, enterros não puderam ser feitos devido à falta de guia de sepultamento.

Com o aumento das mortes, um caminhão frigorífico, com 50 corpos, estacionado em frente ao Instituto Médico Legal (IML) já funciona como uma extensão do prédio. Segundo o contrato publicado pela prefeitura, o aluguel do veículo, de 72 mil reais mensais, se estende até novembro de 2021.

DESESPERO – Na quinta-feira passada, os funcionários do Hospital de Campanha de Belém (PA) foram forçados a abrir as portas diante da gritaria de familiares e pessoas que aguardavam notícias de parentes na entrada. A unidade, que recebe apenas pacientes triados em outras unidades, foi obrigada a atender a paciente desmaiada, motivo da aflição dos que estavam à frente do Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, o Hangar, no bairro do Marco, uma casa de eventos e shows convertida em hospital de atendimento para pacientes graves da Covid-19.

Em um vídeo que circulou nas redes sociais uma família agride um médico por não aceitar a causa da morte de uma paciente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro da Terra Firme, em Belém. No laudo, o médico registrou “suspeita de covid-19”, enquanto, de acordo com a família, o motivo do óbito teria sido pneumonia.

Contenção tardia

A prefeitura da capital paraense anunciou apenas nesta segunda-feira, 27, o fechamento do comércio da cidade, em caráter temporário, durante a pandemia do novo coronavírus. O anúncio aconteceu dias depois que a Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE) ajuizou uma ação, no sábado (25), solicitando o fechamento de todos os serviços não essenciais na região metropolitana de Belém. O pedido serviu para as Prefeituras de Belém, Ananindeua, Benevides e Santa Bárbara.

Fator agravante é a falta de planejamento urbano da capita paraense. Com o aumento das chuvas as principais ruas da cidade, assim como a periferia, alagam e a circulação fica comprometida. Aqueles que se arriscam e encaram o alagamento podem contrair outras doenças como leptospirose ou tétano, mais um problema para ser atendido por um sistema já colapsado.

 

Alagamentos nas ruas de Belém. Foto: João Paulo Guimarães