Formatura de estudantes da Unilab, em Cruz Almas, na BAH. | Foto: Mídia NINJA

Nesta terça-feira (16), Jair Bolsonaro anunciou por Twitter que o Ministério da Educação interveio na Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) para suspender o vestibular que reservava 120 vagas para transgêneros, transexuais, travestis, não-binários e intersexuais.

A média de vida dessa população no Brasil é de 35 anos – menos da metade da média da população nacional, que é de 75 anos. A expectativa de vida é baixa pela violência, mas também pela falta de acesso à saúde ou à educação. A maioria dessas pessoas, que sofrem pela escassez de políticas que as protejam, tem que buscar outros meios para sobreviver.

A co-deputada estadual, Erika Hilton, uma das primeiras deputadas trans eleitas em uma casa legislativa no Brasil, foi uma das pessoas a se manifestar respondendo a publicação de Jair:

https://twitter.com/ErikakHilton/status/1151204402738470914

Criada em 2010, a Unilab possui campus no Ceará e na Bahia e tem como foco o intercâmbio com países africanos de língua portuguesa. Tem cerca de 6,5 mil alunos.

O Instituto Brasileiro Trans de Educação divulgou uma nota em repúdio à atuação de Bolsonaro diante da promoção da inclusão da comunidade LGBTQI+ na Unilab.

Leia a nota na íntegra:

A nossa surpresa ao acordar e ler:

“A Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Federal) lançou vestibular para candidatos TRANSEXUAL (sic), TRAVESTIS, INTERSEXUAIS e pessoas NÃO BINÁRIOS. Com intervenção do MEC, a reitoria se posicionou pela suspensão imediata do edital e sua anulação a posteriori.”

Esta é uma nota de repúdio contra a intervenção do presidente junto ao MEC e a intervenção do MEC junto a Universidade. Numa corrente de abusos que tanto tem produzido no Brasil o título de país que mais mata LGBTI em todo globo.

Quem assina é justamente o presidente que diz governar para todos e ser anticorrupção (sempre acho que melhor seria ANTE, já que precede) e sabemos que de fato é para todOs mesmo, sem qualquer recorte de raça, credo, classe ou gênero. É para homens brancos que se vêem acima da média. Estamos falando de um sujeito calçado em infinitos privilégios que minha visão monocular pouco ainda enxerga.

No edital em questão, é explicito que um conjunto de vagas destinadas a cotas (raça/gênero) foram reunidas e seu nome publicizado para que o público trans/intersexo fosse contemplado. As vagas deste vestibular em nada altera o processo seletivo destinado ao grupo cisgênero que durante anos teve livre acesso a qualquer processo sem nenhum custo dado por sua genilização. Sim, a genitalização dos sujeitos, que acaba por coloca los em lugar de inferiorização e exotificação. Trata se do exercício da necropolítica em plena ação para privatização do ensino público fazendo uso da política estatal de letalização.

A prática homo/transfóbica do Presidente em exercício é recorrente e pode ser vista através de qualquer acesso a internet com as palavras chave, “bolsonaro homofóbico”. Entretanto atropelar processos democráticos reiterados pela liberdadede cátedra tem sido prática usual desta gestão, que sabemos passará, mas deixará grandes marcas de atraso e retrocesso, escrevi na nota junto às Diretoras e Coordenadoras do IBTE – Instituto Brasileiro Trans de Educação.

Em outro trecho da nota dizemos:

“O IBTE, que responde por importante marca de união entre pessoas trans/travestis/Intersexo informa que acompanhará a apuração das medidas contra a UNILAB e pede por meio desta que toda comunidade civil se manifeste em apoio às pessoas trans, travestis, intersexo e não-bináries excluidas do ensino escolar formal por práticas conhecidas como homo/lesbo/trans/Intersexofobia. Estima se que 82% de crianças trans/travestis/intersexo serão expulsas das escolas por simplesmente não estarem dentro do padrão que sustenta a norma de sujeição cisgênera.

O IBTE, coloca se junto à UNILAB nesse momento de exclusão e segue na luta para que tempos de pontes sejam maiores que tempos de muros!”

É o que nos aguarda? Um governo de muros e reveses?
Cada dia que temos que assistir esse presidente que passará, rasgando a bandeira da democracia e do bem-viver, uma única pergunta pode ser feita, até quando seguiremos caladas, calades e calados ante o abuso com a indignação pressa na garganta?

Estão nos atacando como sempre fizeram e apenas lembro que por muito mais privilégio que meras cotas para transsexuais, travestis e não binários, tivemos o presidente indicando sem nenhum carácter maior ou mérito um filho à uma embaixada e o perdão às práticas ilícitas das plantações dos laranjais.

Sara Wagner York
Coordenadora IBTE