Da Coreia do Sul se conhece um caso exemplar capaz de explicar a importância do isolamento social como a medida emergencial mais eficaz para inibir o contágio em massa das populações, e o inevitável esgotamento de toda e qualquer estrutura de saúde, seja nos países pobres ou desenvolvidos, como é possível observar na China, Itália, Espanha e mais recentemente nos EUA. O isolamento social, portanto, salva vidas.

O caso da Coreia, conhecido como “paciente 31”, diz respeito a uma mulher de 61 anos, praticante religiosa da organização Shincheonji, cujo líder Lee Man-Hee, diz ser a reencarnação de Jesus Cristo. No dia 9 de fevereiro a paciente apresentou febre alta e dores de garganta e foi aconselhada pelos médicos a fazer o teste e se manter em casa por sete dias. O que as autoridades descobriram depois é que a mulher descumpriu as recomendações e teria participado de um almoço com amigos, num hotel e depois circulado pela cidade em táxi e transportes públicos. Participou, também, de dois cultos na igreja Shincheonji da cidade de Daegu, a 200 quilômetros de Seul.

O caso foi descoberto a partir de rastreamentos das autoridades sanitárias sul-coreanas, que acompanhavam de perto o desenvolvimento dos casos do covid-19, visto que a China, país vizinho, naquele momento já apresentava um quadro de alastramento da doença. Até o dia 17 de fevereiro, só havia 30 casos da doença na Coreia do Sul e em poucos dias o número saltou para 2.300. Preocupados com a rápida incidência da transmissão da doença, as autoridades resolveram estudar os casos conhecidos, já relatados e atendidos em hospitais, e logo chegaram a tal paciente que teve o teste positivo confirmado no dia 18.

A partir do rastreamento imediato dos movimentos da paciente as autoridades começaram a acompanhar os seus contatos próximos e de imediato identificaram pelo menos 1.610 possíveis infectados com algum dos sintomas do covid-19 e, que, entre estes, 1200 eram adeptos da organização Shincheonji. Estes pacientes passaram por testes e depois de 15 dias as autoridades chegaram à conclusão de que pelo menos 5.000 pessoas infectadas estavam relacionadas diretamente ao caso da paciente 31 e à sua igreja, segundo dados coletados pela agencia Reuters e distribuídos para a imprensa.

O caso da paciente 31, como referido, apresenta-se como um fenômeno exemplar tanto para que se perceba a capacidade de multiplicação do vírus a partir de um único caso, como também, para que se compreenda a necessidade do isolamento social para combatê-lo. Dito isto, cabe lembrar que o presidente em exercício, Jair Bolsonaro, havia definido, por Decreto, na ultima quinta-feira, 26 de março, que templos religiosos faziam parte dos “serviços essenciais”, assim como casas lotéricas – duas fontes arrecadadoras por excelência -, a primeira para os templos evangélicos dos seus fieis escudeiros, e o segunda, para os cofres do Estado. Felizmente, o juiz federal da 1ª Vara de Duque de Caxias (RJ), Márcio Santoro Rocha, determinou no dia seguinte, sexta-feira, 27, a sua não validade.

Preocupado em combater as medidas de contenção da transmissão do vírus a todo custo, na contramão de tudo que se diz e faz pelo mundo afora, agora confinado, o presidente afirmou nesta quinta-feira, 2, que pode assinar um decreto que está em cima da sua mesa para relaxar o isolamento social nos estados e municípios, e ampliar o número de profissões para a volta ao trabalho normal durante a quarentena.

Bolsonaro se recusa a compreender que, na atualidade, a ciência já sabe muito sobre o covid-19, mas muito conhecimento ainda será necessário para que a doença seja controlada e deixe de pôr em risco a saúde da humanidade. O que é possível saber, desde já, e o presidente não pode se dar o direito de refutar, é que existem três possibilidades a serem consideradas a curto, médio e longo prazo, para primeiro mitigar e depois resolver o problema: o isolamento social, o teste em larga escala, de forma a abranger o maior número de pessoas possíveis em todo o mundo, e a descoberta de uma vacina. Esta última, na melhor das hipóteses deverá surgir em 18 meses, segundo os especialistas.

Não é por outra razão, que as autoridades funerárias da cidade de São Paulo tomaram a providência de mandar abrir centenas de covas em cemitérios públicos da cidade, e que o Washington Post ilustrou na capa do jornal as imagens dessas sepulturas a céu aberto, prontas para serem ocupadas por pessoas que serão sepultadas, solitariamente, sem a presença de familiares, que possam ao menos recomendar as suas almas e lhes dedicar homenagens e despedidas de corpo presente.

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