Dois indígenas são baleados em ação da PM na Terra Indígena Xokleng, em Santa Catarina
Ação ocorreu como parte do plano do governo em fechar as comportas da Barragem Norte, que fica dentro da Terra Indígena Ibirama La Klanõ, do povo Xokleng, e que vai deixar debaixo d’água várias casas na aldeia
Na manhã deste domingo (8), o governo do estado de Santa Catarina usou a Polícia Militar em uma operação que deixou dois indígenas feridos por tiros. A ação ilegal ocorreu como parte do plano do governo em fechar as comportas da Barragem Norte, que fica dentro da Terra Indígena Ibirama La Klanõ, do povo Xogleng, e que vai deixar debaixo d’água várias casas na aldeia. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou que enviou representantes para a aldeia.
O governo catarinense afirma que o fechamento das comportas é uma medida necessária para responder às fortes chuvas que caem sobre o estado nos últimos dias. Duas pessoas morreram e 82 municípios estão em situação de emergência. Não há informações atualizadas sobre o número de pessoas atingidas ou deslocadas.
Em uma reunião no último sábado, o povo Xokleng e representantes do governo concordaram com o fechamento da barragem. O governo se comprometeu a fornecer condições de acesso, alimentação e água potável aos indígenas afetados pela inundação, mas isso não foi cumprido, mesmo após decisão da Justiça Federal. O “Plano de Contingência para Eventos Hidrológicos e Geológicos na Comunidade Indígena – Barragem Norte”, foi ignorado pelo governo de SC até o momento.
Sem acesso a água
Desde a última quarta-feira (4), os Xokleng ficaram sem acesso a água potável devido ao enchimento do lago da Barragem, tornando a principal via de acesso à cidade de José Boiteux intransitável.
A Barragem Norte, construída durante o governo militar, deveria conter enchentes no Rio Itajaí, mas nunca foi concluída adequadamente, explica o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que mantém contato com as lideranças indígenas locais.
O Canal Extravasor, necessário para garantir a segurança das operações, nunca foi construído, e a falta de manutenção ao longo dos anos levantou sérias preocupações sobre sua estabilidade. No entanto, imagens recentes da barragem mostram que ela estava funcionando para conter a água e controlar as enchentes do rio.
O descumprimento das medidas de compensação remontam os anos 1990 e 2000. Em ação transitada em julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) no mês de agosto de 2017, o Poder Judiciário condenou o estado de Santa Catarina, a União e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) a implementar ações compensatórias e de segurança relativas à Barragem Norte. A sentença judicial nunca foi cumprida e o governo do estado de Santa Catarina deixou as estruturas da citada Barragem abandonadas, sem manutenção há cerca de dez anos.
Organizações pedem justiça
Organizações indígenas se manifestaram contra a ação ilegal da polícia e cobram resposta da Justiça. “Não podem deixar que essa violência ultrapasse mais do que já foi ultrapassado, será que vão deixar os indígenas morrerem?! O governo precisa urgentemente fazer algo a respeito dessa tamanha violência, isso é um tremendo genocídio”, afirmou em nota a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade.
O CIMI afirmou que “na forma de um revide armado à derrota sofrida no STF, relativamente à inconstitucionalidade do marco temporal, ao culpabilizar arbitrária e injustamente o povo Xokleng pelas enchentes no Rio Itajaí, o governo estadual expõe a vida de centenas de milhares de outros catarinenses que vivem à jusante da Barragem Norte a uma situação de alto risco”.