Caos como relativização da morte
A Universidade Johns Hopkins (Baltimore/EUA) informou, nesta quinta-feira, 26, que o número de casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus superam 500 mil, e já atingem 576.859. A doença provocada pelo covid-19 já matou 26.455 pessoas em todo o mundo, segundo a mesma fonte.
A Universidade Johns Hopkins (Baltimore/EUA) informou, nesta quinta-feira, 26, que o número de casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus superam 500 mil, e já atingem 576.859. A doença provocada pelo covid-19 já matou 26.455 pessoas em todo o mundo, segundo a mesma fonte. Até esta data, a Itália confirma a morte de 9.134, a Espanha informa 4.934 mortos, os Estados Unidos registra o óbito de 1.178. No estado de Nova York, onde 37.258 pessoas estão infectadas, morreram 385.
Enquanto isso, o Brasil segue entregue à irresponsabilidade de um presidente que nega a letalidade do vírus e desautoriza as recomendações de isolamento asseguradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como a medida mais eficaz para conter a transmissão de forma a espaçar incidência da doença, sem saturar as estruturas de saúde existentes e preservar os corpos técnicos disponíveis do contágio e carga desumana de trabalho. Nesta semana, o presidente vaticinou que a pandemia não passa de uma “gripezinha”, pela qual ele passaria pessoalmente “sem nada sentir”, pelo seu “histórico de atleta”.
Em comunicado em cadeia nacional no rádio e televisão, nesta quarta-feira, 25, Bolsonaro defendeu que medidas profiláticas como o “recolhimento de pessoas em casa e o encerramento de espaços públicos”, não fazem o menor sentido e vão causar quebradeira na economia do país. Afirma ainda, o presidente, que os meios de comunicação “semeiam o pavor e a histeria entre os brasileiros”.
Isolado em Brasília, Bolsonaro é hoje um mandatário em desacordo com o seu próprio ministro da Saúde, a quem o presidente limitou a autonomia técnica. Até pouco tempo o Ministro conseguia estabelecer uma relação acertada do Órgão com o conjunto dos profissionais do Sistema Único de Saúde: médicos, enfermeiros, técnicos das mais diversas áreas, além dos conselheiros, fornecedores e gestores municipais e estaduais de todo o país, e avançava com um plano de contenção da doença com possibilidade da quarentena.
O SUS é uma verdadeira maquina de saúde pública, dotada de milhares de profissionais que conhecem o terreno e estão acostumados a enfrentar as dificuldades de um setor que carece de equipamentos técnicos e humanos de toda a sorte, mas não de vontade e competência para o enfrentamento dessa guerra contra o vírus. Depois de assistir o presidente constranger publicamente o Ministro da Saúde, desautorizando medidas que foram tomadas em consonância com as regionais de saúde do Ministério e Secretarias de estados e municípios, os profissionais começam a perder a capacidade de coordenação das ações e já não será surpresa o colapso operacional do Sistema.
Sem partido, Bolsonaro está isolado politicamente no Parlamento, onde perdeu a base e já não consegue maioria para aprovar projetos e medidas provisórias. Perdeu também o apoio dos 27 governadores dos estados, muitos dos quais o apoiaram na campanha, a exemplo, os governadores de Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro – acusados agora de traidores e demagogos, pelo ex-aliado. Preocupados com a negligência do governo central, os 27 gestores resolveram de forma conjunta adotar medidas de isolamento e proteção da população dos seus domínios políticos, como recomendam os órgãos internacionais de saúde.
Por fim, Bolsonaro perdeu apoio considerável dos seus simpatizantes e dos brasileiros em geral, depois dos episódios do último dia 15 de março, quando quebrou a quarentena e foi se manifestar junto aos seus apoiadores à porta do Palácio, na Praça dos Três Poderes em Brasília. Bolsonaro se encontrava em isolamento, por recomendação médica, com a suspeita de contaminação pelo Covid-19.
A manifestação, convocada pelo próprio Bolsonaro, ainda que ele negue, tinha como propósito intimidar os outros poderes constituídos da Nação, o Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal. Segundo afirmou, os outros poderes articulavam o seu impeachment de forma que “seria um golpe isolar o chefe do Executivo por interesses não republicanos”. Neste dia, um domingo, em meio a uma aglomeração não recomendada, o presidente resolveu fazer uma ação de promoção pessoal e de alto risco contra a saúde pública, pela proximidade, apertos de mão e poses para selfie, numa atitude que chocou a opinião pública do Brasil e do mundo.
Sublinhe-se que neste momento o presidente encontra-se isolado no Palácio, onde seguramente foi contaminado pelo Covid-19, o maior número de assessores políticos por metro quadrado em todo o mundo, 22 casos, até agora notificados. Como se não bastasse, a comitiva presidencial, com ministros de Estado e colaboradores, é suspeita de contaminar membros do governo de Donald Trump, em visita oficial ao país norte-americano.
Detalhe, o isolamento de Bolsonaro é de ordem política, não profilática, visto que os laboratórios e os seus médicos particulares continuam a esconder os resultados dos testes aos quais foi submetido, o que lhe permite circular diariamente em área externa do prédio da presidência, inclusive para entrevistas coletivas, nas quais costuma atacar a própria imprensa.
Como resultado, a pandemia se agrava de maneira vertiginosa, se alastra desenfreada, em meio aos sinais trocados de um governo sem comando, sem plano de salvaguarda, sem empatia com a uma população depauperada e insegura com relação à sua própria vida e com os destinos do país. Em meio ao pânico provocado pelo risco de uma doença que se propaga pelo ar. Fechado em casa, resta ao povo brasileiro (se tiver juízo) gritar diariamente nas janelas do país: Fora Bolsonaro.