Sob tiros e bombas, comunidade resiste à ação de despejo em Cuiabá (MT)
Durante o despejo, foram relatados o uso de bombas de gás lacrimogêneo e tiros de borracha contra crianças, mulheres e idosos, muitos dos quais vivem em situação de vulnerabilidade social
Na madrugada de segunda-feira (11), para cumprir mandado de reintegração de posse em favor de uma construtora, forças policiais cercaram o assentamento Brasil 21, em Cuiabá (MT). Moradores relataram que foram vítimas de intimidação desde a madrugada, com recomendação para que deixassem suas casas desde os primeiros alertas.
No início da manhã, a situação se intensificou quando as vias de acesso ao loteamento foram bloqueadas, impedindo que aqueles que haviam saído para o trabalho retornassem. Às 10 horas, após várias tentativas de negociação fracassadas, a polícia cumpriu o mandado de desocupação em favor da Ávida Construtora.
Durante o despejo, foram relatados o uso de bombas de gás lacrimogêneo e tiros de borracha contra crianças, mulheres e idosos, muitos dos quais vivem em situação de vulnerabilidade social e ocupam a área devido à falta de acesso ao direito básico à moradia. Ao tempo em que ocorria a reintegração de posse, água e luz foram cortadas para inviabilizar ainda mais a permanência dos moradores na área.
A decisão judicial, cumprida por Prefeitura e Governo de Mato Grosso, contou com resistência por parte de alguns representantes políticos, como os deputados Valdir Barranco (PT) e Wilson Santos (PSD), este último sendo atingido por um disparo de borracha durante o conflito.
O impasse continua e os moradores resistem, sob estado permanente de vigília, afirmando que não vão recuar. Eles clamam por solidariedade e políticas públicas que atendam suas necessidades básicas, especialmente no que diz respeito à garantia de moradia. O loteamento, que é ocupado em grande parte por famílias chefiadas por mulheres e imigrantes, é o único local que têm para morar. Durante os primeiros momentos da reintegração, muitos buscaram refúgio em pontes no entorno do assentamento. Outros, têm contado com a solidariedade para se abrigar durante a noite, até que a situação tenha um desfecho.
A cozinha solidária, montada há mais de um ano, tem garantido a alimentação. Mas na terça-feira (12) na tentativa de erguer uma nova unidade improvisada para ampliar o número de refeições, 13 pessoas foram presas.
Já nesta manhã de quarta-feira (13) eles deixaram a área rumo à Assembleia Legislativa de Mato Grosso para uma audiência pública convocada que objetiva buscar soluções para o drama desses moradores. A polícia permanece no local enquanto os residentes estão determinados em proteger o pouco que têm, na esperança de que a justiça prevaleça e suas demandas sejam atendidas.
A comunidade organizou um canal oficial para arrecadar doações:
Agência: 0001, Conta: 3928599-6, Instituição: 403 – Cora SCD
Nome da Empresa: Associação de Moradores Do Loteamento Brasil 21 2, CNPJ: 50.536.328/0001-03
“Gostaríamos de expressar nossa gratidão àqueles que têm demonstrado apoio e solidariedade às famílias em nossa região que enfrentam dificuldades. No entanto, para garantir transparência e segurança em todas as doações, informamos que as contribuições serão aceitas apenas através do PIX vinculado ao CNPJ da Associação Brasil 21”, afirmou a comunidade em um comunicado.