Por Gabriel Carriconde / Brasil de Fato Paraná

A Polícia Civil de Santa Catarina, com apoio de órgãos de segurança pública do Paraná e Rio Grande do Sul, deflagrou uma operação de combate a agrupamentos ligados ao neonazismo.

Cerca de 15 mandados de busca e apreensão foram feitos, no dia 11, simultaneamente, nos municípios de Florianópolis, Blumenau, Joinville e Curitibanos, em Santa Catarina; Praia Grande, em São Paulo; Curitiba, Maringá e Marialva, no Paraná; e Nova Petrópolis e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Duas pessoas foram presas em flagrante, com farto material apreendido.

No dia 10, em Foz do Iguaçu, a Polícia Civil do Paraná também cumpriu mandados de busca e apreensão, no âmbito de investigação, que apontam a existência de uma célula nazista na cidade. O grupo é, supostamente, formado por universitários ligados a práticas de disseminação de ódio, conteúdos de cunho racista e apologia ao nazismo.

De acordo com dados do Observatório Judaico de Direitos Humanos, as cidades do sul têm o maior número de células neonazistas no Brasil. Curitiba, por exemplo, é a terceira cidade com maior número, perdendo apenas para São Paulo e Blumenau, a cidade com maior quantidade de grupos.

Os dados apontam ainda que, só em Santa Catarina, há cerca de 320 células, enquanto o Paraná conta com 197. A pesquisa aponta que a quantidade de grupos foi multiplicada a partir de 2019, após a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, “representante da extrema-direita política e cujo discurso de ódio legitimou o avanço desses grupos.”

Análise

Para Carlos Reiss, Coordenador Geral do Museu do Holocausto, em Curitiba, com o enfraquecimento de pilares democráticos e o aprofundamento da crise econômica, depois de 2008, abriu-se a possibilidade de avanço desses grupos.

“É um fenômeno cíclico – e, aqui no Brasil, nós estamos nesse processo há pouco mais de uma década. À medida que vão se enfraquecendo esses pilares democráticos – incluindo o consenso da educação antifascista e os direitos humanos como universal e inegociável – vão se abrindo brechas perigosas para que os discursos de ódio ganhem legitimidade”, afirma. “É evidente que existe uma correlação entre o crescimento da extrema-direita e as ideias representadas pelo último governo. No entanto, o bolsonarismo não é a causa, e sim a consequência do início desse ciclo”, complementa.

Reiss destaca que, apesar da colonização alemã no sul do país, a região acabou sofrendo com a presença de tais grupos, sobretudo pela postura das oligarquias locais.

“Houve, sim, aquela imigração que trouxe, ao Brasil, uma noção de superioridade e que foi introjetada na população. Isso inclui narrativas heroicas da colonização e, também, o tema da branquitude. Mas tudo isso é apenas uma parte da conversa. Em razão da forte presença oligárquica, a força política da extrema-direita sempre esteve presente por aqui. Foram raros os momentos em que a esquerda conseguiu se impor no sul”, diz.

Marcelo Junged, ex-Chefe de Gabinete e Assessor Especial da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná em 2003 e 2006, afirma que é preciso ações de prevenção e repressão para lidar com grupos da extrema-direita.

“Mesmo nos governos de esquerda, houve pouca conscientização e tentativa de reverter, culturalmente, os problemas históricos, como a raiz da herança escravocrata. Outro ponto são ações de repressão a esses grupos, jogando com inteligência, aprofundando o trabalho de informações. E punir, com qualidade, sem selvageria, mas reprimir, duramente, e colocar na cadeia, sem dar um minuto de folga para essa gente”, afirma.