Autoras: Lori Ferriss, Built Buildings Lab, e Lucia Ixchiu, Peoples For Forests Community

A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima de 2025 (COP30), em Belém, Brasil (11 a 22 de novembro), representa uma oportunidade crucial para avançar na inclusão da cultura e do patrimônio nas políticas de mitigação. Este artigo explica como a cultura se conecta às negociações da COP30, o que está em jogo e quais são as prioridades que os defensores devem pressionar para transformar reconhecimento em financiamento e ação.

A Última Chance para Manter o 1,5°C Vivo

A COP30 foi declarada “a COP da implementação e adaptação” pela presidência deste ano. Embora a adaptação receba merecida atenção como questão essencial de resiliência econômica e justiça climática, esta também é uma encruzilhada urgente para a mitigação — a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Com os países renovando suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) pela última vez antes de 2030, a janela para cumprir a meta de 1,5°C do Acordo de Paris continua se fechando. Segundo o Relatório de Lacuna de Emissões da ONU (2024), o mundo caminha para um aquecimento entre 2,6°C e 3,1°C neste século. O Centro de Resiliência de Estocolmo identificou que sete das nove fronteiras planetárias já foram ultrapassadas este ano.

É hora de acelerar os esforços de descarbonização — cada redução nas emissões e cada grau de aquecimento evitado melhora as perspectivas para o futuro.

Por Que a Cultura e o Patrimônio São Importantes para a Mitigação Climática

O patrimônio cultural é uma alavanca crítica — e amplamente inexplorada — para alcançar as metas de descarbonização do Acordo de Paris. Ele oferece milhares de anos de evidências de como as pessoas podem prosperar sem depender de combustíveis fósseis.

A cultura molda a forma como as comunidades entendem o risco, gerem recursos e mobilizam ações coletivas; influencia profundamente como as sociedades reduzem emissões e se adaptam às mudanças climáticas. Incorporar o conhecimento cultural nas políticas de mitigação climática ajuda a garantir transições justas, localmente enraizadas e resilientes, catalisando a transformação necessária para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Com os governos reunidos em Belém, reconhecer essa dimensão cultural nunca foi tão urgente. Alcançar as metas globais de mitigação exigirá novas — ou antigas — formas de viver e sustentar o ambiente. Do manejo tradicional da terra ao design comunitário e às indústrias criativas, o patrimônio cultural oferece conhecimentos práticos e valores compartilhados para impulsionar a descarbonização.

Cultura no Programa de Trabalho de Implementação e Ambição de Mitigação de Sharm El Sheikh (MWP)

No âmbito da UNFCCC, o MWP — lançado na COP27 — oferece oportunidades-chave para integrar o patrimônio cultural às decisões de política climática. O programa serve como plataforma para avançar esforços de mitigação, especialmente em temas sensíveis como a eliminação dos combustíveis fósseis.

Em 2024, defensores culturais da Climate Heritage Network engajaram-se fortemente no tema “Cidades: edifícios e sistemas urbanos”. A importância do patrimônio construído na redução das emissões — por meio da reutilização de edificações, circularidade de materiais e métodos de design vernacular — foi destacada como estratégia essencial de mitigação.

Graças a essa atuação, o MWP de 2024 incluiu a única referência à cultura resultante da COP29. Em 2025, o programa concentra-se em dois temas nos quais o patrimônio cultural oferece soluções cruciais: o setor de resíduos (incluindo abordagens de economia circular) e o setor florestal e de uso da terra (AFOLU), que abrange o combate ao desmatamento, a restauração de áreas degradadas e o fortalecimento de sumidouros de carbono.

Soluções Patrimoniais para a Economia Circular

Segundo a resposta formal da Climate Heritage Network ao sexto diálogo global do MWP, o patrimônio cultural é parte essencial do avanço de soluções técnicas e sociais para a mitigação nesse setor.

Práticas como reuso e conservação de edifícios, desmontagem e reaproveitamento de materiais, e design tradicional de baixo carbono — apoiadas por ferramentas como o escaneamento 3D — reduzem o desperdício, conservam recursos e diminuem as emissões ao longo do ciclo de vida.

Mais amplamente, a cultura e o patrimônio revitalizam saberes tradicionais, fortalecem capacidades para uma economia circular e utilizam arte e narrativas para promover uma mudança cultural rumo a soluções regenerativas e de baixo carbono.

Conhecimento Indígena e Soluções para o Uso da Terra e Florestas

Por milênios, povos indígenas em todo o mundo praticam formas de manejo florestal que sustentam ecossistemas e comunidades.

O Conhecimento Ecológico Tradicional (TEK), enraizado em observação, espiritualidade e reciprocidade, oferece modelos essenciais para estratégias globais de uso da terra e florestas. Esse conhecimento — especialmente com a restauração dos direitos territoriais e o respeito às formas locais de governança — traz soluções eficazes para as metas de mitigação do MWP.

Um exemplo é a Amazon Flotilla, jornada fluvial de 3.000 km dos Andes à bacia amazônica, que chegará à COP30 para levar as vozes indígenas da linha de frente ao centro das decisões climáticas.

Mitigação Climática Baseada na Cultura na Agenda de Ação

A Action Agenda da COP30 oferece outra oportunidade para a cultura além das negociações do MWP.

Um Activation Group dedicado à Cultura, Proteção do Patrimônio Cultural e Ação Climática está desenvolvendo planos para integrar o patrimônio cultural nas políticas de mitigação do setor de edificações, além de avançar o papel da cultura na adaptação e na narrativa como catalisadora de ação.

Esses planos fortalecem o papel da cultura e integram soluções baseadas em valores culturais a uma agenda holística promovida pela Action Agenda.

Conclusão

A COP30 em Belém marca um momento decisivo para as políticas de mitigação voltadas a conter o aquecimento global.

Por meio das novas NDCs, dos resultados do Mitigation Work Programme e do avanço da Action Agenda, a cultura e o patrimônio oferecem soluções oportunas para reduzir gases de efeito estufa e impulsionar as mudanças culturais necessárias à adaptação futura.

Do manejo tradicional da terra às práticas de economia circular, a cultura apresenta caminhos comprovados para reduzir emissões e fortalecer a resiliência.

O desafio em Belém é transformar esse reconhecimento em políticas concretas, financiamento e ação — garantindo que a transição para um futuro de baixo carbono reflita a sabedoria, os valores e a criatividade das comunidades em todo o mundo.