Transição energética justa ou colapso socioambiental: o momento de decidir qual rumo seguir é agora
O Vale do Paraíba, região do Interior de São Paulo, enfrenta uma ameaça com poder devastador de destruição socioambiental: a maior usina termelétrica do Brasil pode ser instalada em Caçapava.
O Vale do Paraíba, região do Interior de São Paulo, enfrenta uma ameaça com poder devastador de destruição socioambiental: a maior usina termelétrica do Brasil pode ser instalada em Caçapava.
Herança do (des)governo de Jair Bolsonaro, as usinas termelétricas têm se espalhado pelo Brasil com o falso argumento de que seriam um recurso para amenizar a crise hídrica e, consequentemente, de energia elétrica, que o país enfrenta desde o começo da década passada.
Usinas termelétricas são produtoras de energia a partir de combustíveis fósseis (carvão ou gás metano fóssil), que, ainda que hipoteticamente funcionassem como um contingente para momentos de baixa na produção de energia a partir de hidrelétricas (que geram a maior parte da energia no país), poluem o meio ambiente, afetam a saúde da população do seu entorno e encarecem exponencialmente a conta de luz de toda a população brasileira.
Após a privatização da Eletrobras, este tipo de usina já foi instalada em Manaus (AM), Macaé (RJ) e Capivari de Baixo (SC). Agora, é a vez do município de Caçapava (SP) ser ameaçado com uma usina que, se for instalada, trará uma quantidade de poluição equivalente a 640 mil automóveis por ano, ou, em números, cerca de 3.303 toneladas de monóxido de carbono (CO2) emitidos na atmosfera de uma região cercada de montanhas, onde a circulação do ar é, naturalmente, menor. Mais de 2 milhões de pessoas no Vale do Paraíba serão expostas à estes poluentes, que se espalharão por um raio de até 800km do local de construção da usina.
Não bastasse estes dados, que por si só já são alarmantes, a Termelétrica São Paulo, projeto da empresa Natural Energia para Caçapava, ainda emitirá quantidades altíssimas de outros poluentes nocivos à vida em todo o território afetado: 2.541 toneladas de óxido de nitrogênio (NOx) e mais 570 toneladas por ano de emissão de hidrocarbonetos totais (HC). Tudo isso em um município cercado por APAs (Áreas de Proteção Ambiental), em um dos enclaves mais preservados da Mata Atlântica do nosso estado.
A “Cidade Simpatia”, como é conhecida Caçapava, tem como uma das suas principais fontes de arrecadação e geração de empregos a agricultura de pequenos produtores, a pecuária e o ecoturismo; todas estas atividades serão prejudicadas com a instalação da termelétrica e a população taiada e valeparaibana, organizada em diversos coletivos de ativistas, ONGs, sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos, já se pronunciou como sendo terminantemente contra o monstro poluidor que a Natural Energia está insistindo em instalar há 5km do Centro do município, em uma área onde famílias centenárias plantam e cultivam a terra para alimentar todo o Vale do Paraíba.
Nós, da Bancada Feminista do PSOL, estamos ao lado da população de Caçapava, do Vale do Paraíba paulista e dos movimentos que, há mais de 2 anos, tentam barrar este projeto.
Para que uma transição energética verdadeiramente justa ocorra no Brasil, soluções de energia limpa e renovável são urgentes; isto passa pela redução gradativa, mas acelerada, do uso de combustíveis fósseis. Fazer a formulação de políticas públicas que estimulem o uso de novas tecnologias para este fim são um dos propósitos que nos movem, enquanto um coletivo de mulheres negras na política, a seguir travando essa batalha.
Seremos justamente nós, as mulheres negras, uma das populações mais afetadas pelo colapso climático que empreendimentos como esse trazem para nossa sociedade já combalida pelo racismo ambiental que a assola. Seremos a nós quem mais sofrerá com a falta de água, com a conta de energia mais cara, com as doenças respiratórias provocadas pelo ar poluído, com a alta dos preços dos alimentos e seu envenenamento pelos poluentes que termelétricas como esta trazem para os locais onde são instaladas.
Com o intuito de fomentar cada vez mais iniciativas que avancem um horizonte transformado para todas nós, compomos a Frente Parlamentar Ambientalista da ALESP e da Câmara Municipal de São Paulo, além da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, da qual somos vice-presidentes, e a Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara. Nestes espaços, já aprovamos políticas para o enfrentamento de desastres climáticos, com a criação de um Fundo Emergencial estadual para este fim, e propusemos importantes ações de adaptação e mitigação da emergência do clima e de proteção ao meio ambiente na cidade de São Paulo, incluindo apoio às comunidades indígenas paulistas.
Em 2023, enfrentamos Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes em suas investidas contra o meio ambiente na cidade e no estado de São Paulo. Bolsonaristas que são, essa nefasta dupla comemora a privatização da Eletrobras – que já mostra sua cara, com a conta de luz subindo à preços astronômicos e apagões rotineiros – e da SABESP, cuja batalha para barrar sua entrega ao mercado financeiro ainda não terminou.
Impedir a instalação da termelétrica de Caçapava e apresentar soluções de geração de renda a partir de perspectivas locais de desenvolvimento, com foco nas demandas e soluções apresentadas pelas comunidades locais, é mais uma forma de combatermos o avanço do bolsonarismo e da extrema direita, mas não apenas isso. Expulsar de uma vez por todas a ameaça de usinas termelétricas do Brasil é iniciar a revolução do nosso tempo: adiar o fim do mundo e criar, a partir da união da força das mulheres e do feminismo, um outro mundo possível.
Em 31 de janeiro, a partir das 17h30, a Bancada Feminista vai até Caçapava participar do ato contra a instalação da termelétrica e da audiência pública onde a Natural Energia tentará iniciar a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da Termelétrica São Paulo, documento este amplamente contestado por pesquisadores da área ambiental; contestação que tem todo o nosso apoio na luta contra um crime ambiental que pode ser sem pretendentes na história brasileira, já marcada por muitos ecocídios e etnocídios brutais.
Convidamos todas, todes e todos vocês a se juntarem a nós em Caçapava para fortalecer a luta da população taiada contra esta e todas as termelétricas. Mais do que nunca, é hora de agir!
ATO UNIFICADO CONTRA A INSTALAÇÃO DE TERMELÉTRICAS NO VALE DO PARAÍBA | Dia 31 de janeiro | a partir das 17h30 | Rua Major João Prudente, número 81 | Caçapava-SP