Tortura: podia ser eu ou você
Artistas, estudantes, intelectuais e pessoas comuns. Todos estavam sujeitos a serem declarados perigosos e serem perseguidos. Qualquer pessoa, assim como hoje, poderia ser o inimigo do regime.
Os que foram presos e mortos em 1964 poderiam ser qualquer um de nós! Em novembro de 1965, o cineasta Glauber Rocha foi preso. Participava de um protesto contra o regime militar perto do Hotel Glória, célebre e histórico hotel (demolido por Eike Batista) no Rio de Janeiro.
Glauber foi preso com outros jovens amigos, o escritor Antonio Callado, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade, o fotógrafo Mário Carneiro, o escritor Carlos Heitor Cony, o jornalista Márcio Moreira Alves, Flávio Rangel e Jaime Rodrigues. O protesto era em meio a uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) e teve repercussão internacional o que fez os militares recuarem e soltarem os oito. Nem todos tiveram a mesma sorte!
Esses eram os terríveis comunistas que ameaçavam o país! Além de Glauber forma presos: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulo Coelho, etc. Milton Nascimento sofreu perseguição e racismo e o impediram de falar com o filho por 20 anos. Fora a censura as músicas, filmes, peças teatrais, novelas, jornais, etc. E o obscurantismo e ignorância dos censores diante de obras que não entendiam sequer o sentido!
Foram presos e sofreram torturas pessoas de todos os campos culturais e artístico. E não só artistas, mas estudantes, ativistas, pessoas anônimas e comuns, trabalhadores, sindicalistas, políticos, pessoas pobres no interior do país que subitamente se tornaram “inimigos públicos” de um Estado militar de exceção. Foram perseguidos, presos, torturados, mortos, sofreram distúrbios psicológicos, tiveram suas vidas destruídas.
Muitos deles fazem parte hoje da história da cultura brasileira, mas poderiam ter sidos mortos ali mesmo!
Eles poderiam ser você ou qualquer um de nós que pensa diferente do governo Bolsonaro. Qualquer um poderia ser o “terrorista”, “subversivo”, “comunista”. Como hoje qualquer pessoa pode ser o “esquerdopata”, “vitimista”, o que tem “viés ideológico”, o “comunistinha”, a “feminazi”, a “feminista”, o “doutrinador” etc, etc
Neste dia 31/03 não há nada a comemorar ! Os militares além das torturas, deixaram o país 20 anos sem eleições e o Congresso fechado! Se hoje vemos os que tentam “negar” o óbvio, a estratégia de ver o “inimigo” na cultura, nas artes, nos direitos humanos, na diversidade dos corpos e pensamentos, tem uma multidão de redes e vozes que vão conectar essas duas páginas vergonhosas do Brasil: a ditadura militar e o bolsonarismo.
#ditaduranuncamais #ditaduramilitar