Sofrimento no Sul
Na semana passada, o Sul do país foi duramente atingido por mais um ciclone extratropical; impacto chegou a São Paulo, atingiundo o litoral sudeste até o extremo sul da Bahia
Na semana passada, o sul do país foi duramente atingido por mais um ciclone extratropical. O impacto chegou a São Paulo, atingiu o litoral sudeste até o extremo sul da Bahia. Cinco pessoas morreram, dezenas estão feridas e milhares desabrigadas. Este foi o terceiro ciclone em um mês.
O ciclone provocou fortes tempestades e ventanias, com ressacas e enchentes, interdição de estradas e riscos à navegação. Só na quinta-feira passada, oito aviões tiveram que arremeter, devido ao vento, ao tentarem aterrissar em Congonhas, São Paulo. Um milhão de moradores da região sul ficaram sem luz.
Somente no Rio Grande do Sul, milhares de produtores rurais sofreram perdas agrícolas e danos nas suas instalações, 300 comunidades rurais ficaram sem acesso e sem condições de escoar a sua produção. Comunidades indígenas Guarani próximas a Porto Alegre perderam suas roças, ficaram desabrigadas ou ilhadas.
Ciência do clima
No mesmo dia em que o ciclone fazia a sua primeira vítima fatal na cidade de São Paulo, o secretário municipal de clima foi demitido por defender, num seminário promovido pela OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, que não há nada que se possa fazer para combater as mudanças climáticas. Foi um exemplo acachapante da atitude criminosa que boa parte da elite política do país ainda dedica à maior ameaça hoje existente à sobrevivência da vida na Terra.
A ocorrência de ciclones é comum na região sul, mais sujeita à chegada de frentes frias nessa época do ano, mas, também, à influência do chamado fenômeno El Niño, caracterizado pelo excessivo aquecimento das águas na zona equatorial do Oceano Pacífico e que afeta o clima em várias partes do mundo.
Há poucas semanas, os cientistas vinham alertando para o rápido aumento da temperatura do oceano, acima dos níveis normais. O El Niño é um fenômeno natural, que, no entanto, vem sendo potencializado pelo efeito estufa, provocado pela excessiva concentração, na atmosfera terrestre, de gases do efeito estufa, emitidos pela queima de combustíveis fósseis como o carvão, o petróleo e o gás natural e pela destruição das florestas.
A previsão dos cientistas é que o El Niño provocará chuvas intensas no sul e no sudeste, e secas agudas no norte e no centro-oeste. Eles alertam que, dessa vez, ele poderá ser mais intenso e prolongado do que o normal. Os ciclones recentes representam apenas os seus primeiros efeitos.
Cone Sul
Vale lembrar que o último fenômeno La Niña, inverso do El Niño, afetou o sul do Brasil, o Uruguai e o norte da Argentina durante três anos, produzindo secas severas que ainda geram graves efeitos. Arrasou a principal região agrícola, agravando a crise econômica argentina. A população de Montevideo, capital do Uruguai, está sendo abastecida com água salobra. A produção de soja no Rio Grande do Sul caiu 8% em 2022, enquanto cresceu 23% no Brasil.
A crise climática afeta a todos, mas, neste momento, o povo gaúcho merece nossa total solidariedade. O Rio Grande do Sul tem sido duramente penalizado e precisa do apoio dos brasileiros e do governo federal para construir e implantar um plano abrangente de mitigação e de reparação dos seus piores efeitos.
Lula vai se reunir com os demais presidentes dos países membros da OTCA, Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, para discutir projetos e posições comuns sobre a questão florestal e o desenvolvimento sustentável da região. Deveria fazer o mesmo no âmbito do Mercosul, região cada vez mais vulnerável aos eventos climáticos extremos, com foco na adaptação dos países e dos povos às novas condições climáticas.