Silas Malafaia: quando a religião é usada para trair o povo brasileiro
Pastor milionário, empresário e apoiador ideológico do governo Bolsonaro, continua a acumular uma fortuna digna de um CEO de empresa multinacional.
Sob justificativa de “precisar muito dinheiro para realizar a obra de Deus” (um paradoxo que poderia ser entendido também como um perverso cinismo) Silas Malafaia, pastor milionário, empresário e apoiador ideológico do governo Bolsonaro, continua a acumular uma fortuna digna de um CEO de empresa multinacional. Segundo a Receita Federal, há atualmente 116 empresas das quais ele é sócio. O total do capital social declarado de seus empreendimentos é de R$ 17.040.000,00. Em 2009 adquiriu um jato Gulfstream III, Malafaia teria dito que foi uma “galinha morta”, já que o preço pago foi de US$ 12 milhões (cerca de R$ 20,8 milhões), enquanto o avião vale US$ 16 milhões (cerca de R$ 27,8 milhões). Malafaia ostenta anel de ouro e carros Mercedes nos cultos e palestras que ministra. Em entrevista, o pastor revelou que possui 6 apartamentos, 5 no Brasil e 1 nos Estados Unidos.
Seguindo uma peculiar leitura dos textos bíblicos, Malafia é talvez um dos youtubers que mais incita à violência contra as minorias: Já em 2016, foi processado por chamar os fiéis a “descer na porrada” contra os participantes da marcha do orgulho LGBTQI+ que se realiza todo ano no Rio. Recorrentemente usa suas redes sociais com discursos homofóbicos, misóginos, que desprezam os movimentos sociais e as organizações de defesa dos direitos humanos.
Em 2017 o pastor foi indiciado pela polícia federal por ter participado de um esquema de corrupção ligado a royalties da mineração. Segundo a PF, Malafaia teria “emprestado” contas correntes da igreja para ocultar valores desviados em um esquema de corrupção em cobranças judiciais de royalties da exploração mineral.
Já em 2020, Malafaia foi um forte apoiador da reforma trabalhista, pedindo para retirar os “privilégios” dos trabalhadores do Brasil. Com a reforma aprovada em deputados, Malafaia comemorou a desaparição da multa por demissão sem prévio aviso. Para Malafaia, em um país com 13 milhões de desempregados e milhões de trabalhadores realizando serviços em situação irregular, sem carteira assinada ou, em muitos casos, cobrando salários abaixo da tabela, o principal problema do país era que “O trabalhador brasileiro é muito privilegiado”.
Teologia da prosperidade, a armadilha interpretativa dos “pastores” milhonários:
Silas Malafaia sustenta sua carreira empresarial na “teologia da prosperidade”. Buscando justificativa em textos isolados da Bíblia, a teologia da prosperidade não passa de produto do capitalismo e da psicologia do sucesso que domina a maioria das nações industrializadas e atinge também as nações pobres. É uma reflexão que, feita não à luz da Bíblia, mas da procura de privilégios, estimula a insensibilidade diante da injustiça presente no mundo. É a partir dessa cosmovisão que Malafaia e muitos outros líderes evangélicos justificam o acúmulo de poder e fortuna que vem praticando desde finais dos anos 60-70. Malafaia chegou a chamar de “idiotas” aqueles pastores que não pregam a teologia da prosperidade. “Finanças é um dos maiores assuntos da Bíblia. Quando chega nesta parte, muitos pastores, as vezes porque eles mesmos não dão dízimo e nem oferta e, portanto não tem autoridade para falar do assunto, querem bater em quem fala”, disse o pastor.
A teologia da prosperidade tem um forte vínculo político e simbólico com o neoliberalismo e, a sua vez, com o neopentecostalismo. Praticamente todos os líderes evangélicos possuidores de grandes fortunas são filhos ideológicos dessa teoria, que nos últimos anos tem se tornado um fenômeno em rápida expansão dentro do continente latinoamericano. A “teologia da prosperidade”, por outro lado, canoniza uma concepção neoliberal e meritocrática segundo a qual a riqueza seria o sinal de uma bênção divina que recompensa a fé do sujeito com bem-estar, sucesso econômico e social, saúde e prosperidade. A pobreza, a doença, a miséria e a infelicidade são, pelo contrário, expressões do juízo e da maldição divinos, para os quais é necessária a conversão e o discipulado em relação àqueles que são exaltados por Deus com riqueza. Isto pouco tem a ver com a visão tradicional cristã na qual as riquezas mundanas eram vistas como fenômenos ilusórios e perniciosos para a alma humana. A teologia da prosperidade exalta o consumo como um prêmio divino, que regozija a alma logo de fazê-lo com o corpo.
Entre a última semana de setembro e primeira de outubro de 2020, Malafaia protagonizou dois episódios nos quais mostra seu férreo desejo de interceder nos vaivéns políticos do país. Primeiro iniciou uma campanha de desprestígio de todos os partidos políticos de esquerda, desde seu canal de youtube, chamando aos seus seguidores para não votar em candidatos pertencentes a esses partidos. O argumento de Malafaia é que os partidos de esquerda atentam contra os valores cristãos tradicionais. Segundo, criou-se um clima de tensão entre Malafaia e Jair Bolsonaro logo que o presidente indicou Kassio Nunes Marques para o STF. Malafaia qualificou a indicação de “absurdo vergonhoso” e afirmou que “o PT, toda a esquerda, o centrão, os corruptos e todos os que são contra a Lava Jato agradecem” a indicação.
“Pergunta a Bolsonaro! O escolhido para o STF é terrivelmente evangélico? Não! É terrivelmente de direita mesmo não sendo evangélico? Não! O PT, toda a esquerda, o centrão, os corruptos e todos os que são contra a Lava Jato agradecem. Sou aliado do presidente, não alienado”, escreveu.
Bolsonaro respondeu: “Esta autoridade do Rio de Janeiro queria que indicasse um dele, deve saber de quem eu estou falando, né? Tem vários vídeos aí, uma pessoa que ainda diz que tem Deus no coração”
Malafaia, um personagem controverso, acusado inúmeras vezes de usufruir a fé alheia para encher os bolsos de dinheiro de forma espúria, indicado por corrupção, lavagem de dinheiro, processado por incitar a violência e difamação; Um homem que se enriquece pregando uma palavra historicamente reconhecida por chamar às pessoas a fazer um voto de pobreza e renunciar aos bens mundanos; esse homem parece não ter limites enquanto búsqueda pelo acúmulo de poder e de fortuna. Quais são as consequências da influência desse homem na sociedade brasileira? Até quando o país será dividido pelos discursos preconceituosos e de ódio desses personagens que pouco têm a ver com a realidade das pessoas mais humildes e marginalizadas? Nessas próximas eleições, o país pode dar uma virada simbólica e mostrar que o desejo do povo brasileiro é o de atingir a meta de se tornar cada dia mais uma sociedade integrada, tolerante e amorosa.