Setembro Amarelo e a saúde mental de pessoas negras
Não é possível tratar do tema de Setembro Amarelo sem fazer um recorte racial
Na faixa ‘AmarElo’, o rapper, cantor e compositor Emicida traz uma mensagem poderosa sobre saúde mental, destacando os desafios enfrentados pelas pessoas negras para alcançar e manter o sucesso no Brasil. Com a chegada de Setembro Amarelo, abordar a saúde mental de pessoas negras é fundamental para desviar nossos jovens dos caminhos sombrios da vida, evitando notícias trágicas de talentos negros cometendo suicídio em colégios de elite.
A questão da saúde mental está interligada a diversos fatores e um dos maiores desafios é criar caminhos para que essas pessoas não se sintam coagidas pelo Estado e possam, novamente, aprender a sonhar. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de julho deste ano revelam que pessoas negras no Brasil estão 3,8 vezes mais propensas a morrer em uma intervenção policial do que pessoas brancas.
Uma pergunta que sempre faço a todos os entrevistados aqui da coluna é: você acredita que a pauta racial avançou no Brasil? A maioria responde que sim, mas ainda há muito a ser feito. O debate racial precisa incluir a questão da saúde mental, pois é impossível dissociar o avanço dessa pauta da necessidade de cuidar da mente.
É importante ressaltar que existem muitas outras camadas que paralisam um jovem negro: o desemprego, a falta de educação de qualidade, as vagas em faculdades públicas ocupadas por jovens de famílias com alto poder aquisitivo, a questão da moradia, a fome, a falta de saneamento básico, a distância dos grandes centros urbanos, o medo da violência policial, dentre tantas outras problemáticas. Segundo dados do Ministério da Saúde, o índice de suicídio entre adolescentes e jovens negros no Brasil é 45% maior do que entre brancos.
Não é possível tratar do tema de Setembro Amarelo sem fazer um recorte racial. Os dados estão aí, só não vê quem não quer. Uma juventude só consegue se desenvolver plenamente quando tem seu direito à saúde assegurado pelo Estado. Não vamos conseguir avançar de fato na pauta racial se não garantirmos o básico para uma população extremamente vulnerável diante de uma sociedade estruturalmente racista.