São as mãos camponesas que fazem brotar alimento da terra

Dia da Agricultura Familiar Camponesa: O desafio continua sendo aproximar o povo da produção de alimentos

Por Letícia Chimini*

Quanto mais nos aprofundamos nas múltiplas expressões da questão social, mais evidente fica a relação desta com a questão agrária. Das expressões mais enfrentadas e demandadas pelo social, a fome é a que mais salta aos olhos. A questão agrária perpassa pela questão social e ambas têm uma origem comum: a exploração da América Latina, de capitalismo dependente, que resulta em desigualdade no acesso à terra e na fome como causa e consequência do sistema capitalista.

A fome é causa e consequência da sociedade capitalista. Afastar o povo da produção de alimentos é estratégico para a finalidade de acumulação de mais capital e isso passa pela ausência de políticas públicas de incentivo da produção familiar camponesa, mas, primeiramente, pelo cerceamento das terras e da água, pelo acesso desigual à terra. As mãos camponesas fazem brotar alimento da terra que, por meio de ciclos curtos de comercialização, faz chegar ao povo, sem atravessadores, alimentos mais saudáveis e com preços mais justos. Falar da fome, atentando para o êxodo rural, não expõe apenas a subsunção do campesinato ao capital, mas de toda a classe trabalhadora.

Enquanto existir capitalismo, haverá a necessidade de falar sobre a questão agrária e de denunciar as violências e negligências que passa o campesinato e que atravessa os vários territórios e faz chegar à fome os trabalhadores e trabalhadoras rurais e urbanos. Esse tema se faz muito atual e precisamos avançar nas análises teóricas e nas ações coletivas e organizadas, a exemplo das ações das cozinhas solidárias e comunitárias, das campanhas de solidariedade, da Missão Josué de Castro, da luta por políticas públicas que fomentem a agroecologia e tantas outras que fazem chegar comida a classe trabalhadora, sem perder de vista a luta pela reforma agrária popular.

É importante salientar a vida e a luta das camponesas, que enfrentam no seu cotidiano os desafios de classe acrescidos da luta contra a desigualdade de gênero. Saliento, também, a luta de nossos mártires: aqueles e aquelas que partiram dessa existência lutando por terra e território: “Ao seu Pipoca, Dona Eva, Camarada Cacheado, Irmã Dorothy, Padre Josimo, menino Jonatas de Oliveira dos Santos, Bruno Pereira e tantos e tantas que tombaram, defendendo o projeto societário que acreditavam e por essa sociedade lutaram!

Quem luta não morre, segue vivendo através das sementes germinadas na terra, nos exemplos, nas ações e na esperança plantada em cada coração companheiro, que soma esforços, força e suor para que o sol nasça para todos e todas. A luta pela terra e por emancipação humana segue sendo nossa e por isso seguiremos lhes fazendo PRESENTES!”

Letícia é militante do MPA, dra. em Serviço Social/PUC RS, Mestra em Desenvolvimento Regional/UNISC e Assistente Social/Técnica Equipe Federal PPDDH