Retórica do cinismo, lógica da pós-verdade
O presidente Jair Bolsonaro e seus ministros carecem de um traço característico dos homens públicos sérios, dos verdadeiros estadistas. Lhes falta a hombridade, a dignidade e a honradez de assumir os próprios erros para, ao menos, tentar corrigi-los. Estão sempre procurando culpados dentre os seus adversários, apontando o dedo para os outros.
O presidente Jair Bolsonaro e seus ministros carecem de um traço característico dos homens públicos sérios, dos verdadeiros estadistas. Lhes falta a hombridade, a dignidade e a honradez de assumir os próprios erros para, ao menos, tentar corrigi-los. Estão sempre procurando culpados dentre os seus adversários, apontando o dedo para os outros.
Com eles, vale a retórica do cinismo, a lógica da pós-verdade. Houve aumento no desmatamento? A culpa é das ONG’s ambientalistas. Queimadas na Amazônia? Leonardo DiCaprio! Vazamento de óleo no litoral? Greenpeace! Declarações nazistas do ex-secretário especial da Cultura, Roberto Alvim? Foi algum assessor que sacaneou ele. Gasto de R$ 48 milhões para abrir uma caixa-preta do BNDES – que nunca existiu – e descobrir que não havia nada dentro dela? Foi o “garoto”, presidente do banco, que não fez a auditoria direito.
A esculhambação generalizada envolvendo o ENEM 2019 é somente mais um exemplo do caos que se instalou no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios. O que era pra ser “o melhor ENEM de todos os tempos”, segundo fala do ministro Weintraub (Educação), virou um pesadelo para os candidatos e um caso de Justiça.
Erros grotescos na correção das provas. Erros no sistema de inscrições e nas listas do SISU. Ministro conferindo gabarito de filha de amigo. Suspensão dos prazos de inscrições no PROUNI. Servidores de carreira do MEC declarando que o resultado não é confiável. É um absurdo o que estão fazendo com a Educação brasileira. A desculpa esfarrapada, mais uma vez: sabotagem.
Em qualquer um desses episódios, a estratégia é sempre a mesma: colocar a culpa nos outros, alegar complô, conspiração, conluio. Mas, os problemas, em verdade, é que são outros. Como assinalou o colunista Bruno Boghossian, em artigo publicado na edição de 29/01 da Folha de São Paulo, não se trata de sabotagens: são defeitos de fábrica mesmo. E daqueles que não têm conserto.
Aqui no Acre não está sendo diferente. Houve aumento da criminalidade no Estado? Sim. Segundo o comandante da PM, o mesmo que – dizia-se de si mesmo – iria aplicar um “choque” de gestão na segurança pública, a culpa não é do governo. É dos deputados de oposição e da imprensa, que ficam criticando a segurança pública e noticiando os assaltos e homicídios; e que, ao assim agirem, se tornam aliados das facções! Cinismo maior, impossível.
Na lógica da pós-verdade, a verdade é o que menos importa. Importa acreditar naquilo que você quer, nem que, para isso, tenha que lançar mão dos argumentos e justificativas mais estapafúrdios, fundamentados nas mais canhestras fake news. Desde que satisfaça os seus desejos mais íntimos, suas crenças e preconceitos mais recônditos, está valendo.